Tudo começou no ano de 1981, com a saída do treinador Dario Gradi de Plough Lane, antigo estádio do Wimbledon, juntamente com o antigo dono do clube, Ron Noades. Com isso, o assistente Dave Bassett assumiu o controle da equipe. A carreira de Bassett começaria muito mal, caindo para a Quarta Divisão do Futebol inglês já na sua temporada de estreia, sofrendo ainda com o suicídio do jogador Dave Clement, dias antes do último jogo do campeonato.
Porém, na temporada seguinte, 1982-83, começaria uma ascensão meteórica para o time londrino. Venceriam com folga a Quarta Divisão, conquistando 98 pontos para subir de divisão. Na temporada seguinte, nova promoção de divisão, dessa vez, terminando em segundo lugar, para chegar à Segunda Divisão Inglesa.
Na primeira temporada no segundo nível do Futebol inglês, 1984-85, contra as expectativas de rebaixamento, o Wimbledon conseguiu um respeitável décimo-segundo lugar. Já na segunda temporada na Segunda Divisão, conseguiria a tão sonhada promoção para o principal nível do Futebol inglês, a Primeira Divisão. Este foi um feito histórico, atingido apenas nove anos depois de o clube ser admitido nas Ligas, e as três promoções em quatro anos só haviam sido conseguidas antes pelo Swansea de John Toshack.
Novamente, ao contrário das expectativas da imprensa e dos torcedores rivais, o Wimbledon surpreendeu, terminando num inesperado sexto lugar na Primeira Divisão em 1986-87, vencida com tranquilidade pelo superior time do Everton. O Wimbledon chocaria o mesmo Everton na quinta rodada da FA Cup da mesma temporada, vencendo de 3 a 1, sendo eliminados em seguida pelo Tottenham.
O Wimbledon, com seu estilo simples de jogar, utilizando excessivamente da ligação direta para os seus atacantes, chegara ao topo do Campeonato Inglês. Muito criticados pelo seu estilo simples, rude e às vezes tosco, Bassett se esquivava, dizendo ser o esquema mais efetivo para o grupo de jogadores que tinha, bem como o mais eficaz para o grupo.
As críticas recebidas pelo grupo tornaram os jogadores cada vez mais próximos e guerreiros. O espírito de equipe era altíssimo, notório em todas as partidas, bem como nos treinamentos. Por isso, as brincadeiras que os jogadores faziam entre si ou com a comissão técnica, bem como as personalidades fortes e excêntricas dos jogadores, treinador e presidente, deram razão ao apelido The Crazy Gang, originário de um grupo de comediantes ingleses da década de 30. Mas esta alcunha só viria a se popularizar na maior conquista do clube.
Jogadores icônicos como Vinnie Jones, hoje ator de cinema, Lawrie Sanchez, o pequeno e habilidoso Dennis Wise e John Fashanu, um forte e guerreiro centro-avante, eram os mentores do grupo de jogadores polêmico e divertido. Mas o precursor do apelido seria o atleta formado na base do clube, Wally Downes, sendo o maior piadista de todos.
Apesar de serem grandes brincalhões, impunham medo e respeito nos seus adversários. Jones era um meia capaz de entradas perigosas e carrinhos violentíssimos. Fashanu era um centro-avante de grande imposição física e força, às vezes rude, tendo quebrado o nariz e o osso orbital do jogador Gary Mabbutt em uma disputa no ar. Jogando assim, com um grupo de muita raça, espírito de equipe e força, galgaram o seu espaço na Primeira Divisão, mantendo-se por longos anos.
Depois de mais duas temporadas firme na Primeira Divisão, viria a maior conquista do clube. Com a adição de jogadores pontuais, como Terry Phelan, Eric Young, Clive Goodyear e Terry Gibson, chocariam a Inglaterra, vencendo o multi-campeão time do Liverpool na Final da FA Cup de 1988, em um Estádio de Wembley completamente lotado. Dave Bassett já não era mais o treinador, declarando ter levado a equipe ao máximo que podia, deixando o cargo para Bobby Gould.
Aos 37 minutos do primeiro tempo, depois de uma bola levantada para a área, o meia Lawrie Sanchez cabecearia para o fundo da rede. O jogo era muito disputado, com um pênalti muito polêmico marcado para o Liverpool. Entretanto, o consagrado John Aldridge cobraria, para a brilhante defesa do goleiro Dave Beasant. Depois de sofrer com a pressão do Liverpool, o árbitro apitou para o fim da partida, uma vitória histórica de 1 a 0 sobre os vermelhos. Seria o ápice da curta história do Wimbledon.
O apelido do Wimbledon seria eternizado pelo narrador inglês John Motson, que ao apito final, exclamou: "The Crazy Gang have beaten The Culture Club!", ou seja, The Crazy Gang havia batido o Culture Club, apelido do Liverpool na época, pela classe e superioridade de seu futebol. Culture Club, também, era um conjunto musical de sucesso estrondoso na época, liderado pelo grande Boy George.
Passaram a ser a grande sensação do Futebol inglês por vários anos, e o carinhoso apelido pegou em definitivo. Mesmo com a aposentadoria do grupo original, a alcunha foi levada até o fim da história do clube, para fins de marketing e como apelido dado pelos torcedores. Se manteriam na Primeira Divisão até o ano de 2000, quando foram rebaixados, iniciando um triste processo de crise financeira e desmonte do time.
Em 2003, o Wimbledon entraria em processo de falência, e os seus proprietários realocaram o clube para a cidade de Milton Keynes, fundando o Milton Keynes Dons. Terminava aí a brilhante e curta história de uma das maiores surpresas do Futebol inglês.
Apesar de ser um grupo de jogadores muito polêmico - em um jogo contra o Newcastle, Vinnie Jones foi pego por um fotógrafo no exato momento em que agarrava as partes baixas de Paul Gascoigne - bem como considerado um time chato de se assistir - o craque Gary Lineker declarou: "A melhor maneira de se assistir o time do Wimbledon é pelo CEEFAX" (programa de teletexto de notícias da BBC, existente até hoje) - por conta do seu estilo simplório de jogo, era um clube muito querido e certamente marcante.
O Wimbledon, seja pelos seus jogadores brincalhões e cheios de personalidade, pelos torcedores apaixonados ou pelas partidas memoráveis, certamente vai ficar para a história do Futebol como um dos times mais divertidos de todos os tempos, juntando vitórias com polêmica, mas acima de tudo, com muita atitude e vontade de vencer. Os roxo-e-amarelos jamais vão ser esquecidos.
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