segunda-feira, 13 de maio de 2013

Especial: Os Craques mais Feios de Todos os Tempos

Normalmente, o Catenaccio trata quase que em exclusivo de história do Futebol. Entretanto, resolvemos dar um toque um tanto quanto cômico para o nosso blog.

Fizemos uma escolha minuciosa entre grandes craques do Futebol. Aliás, uma escolha criteriosa, com bastante tempo de observação, que se ateve aos detalhes.

Para falar bem a verdade, escolhemos os Craques mais Feios de Todos os Tempos. Com o perdão do trocadilho, escolhemos aqueles jogadores que fizeram bonito no campo, mas que, com relação à aparência física, não faziam nem um pouco bonito...

Escalamos os onze jogadores mais feios da história - na nossa concepção, lógico - bem como o banco de reservas, com as maiores menções honrosas de todos os tempos. Armamos este time em um 4-3-3 bastante ofensivo, mas aceitamos sugestões de todos os tipos, tanto com relação à tática quanto aos jogadores!


Goleiro: René Higuita

Indubitavelmente, a escolha unânime para assumir a meta do nosso esquadrão.

Além de um ser bastante estranho fisicamente, o colombiano Higuita era excêntrico em todos os sentidos dentro de campo. Acostumado a aterrorizar seus companheiros de equipe com jogadas arriscadas, e defesas de alto risco, René botou em cheque seus clubes e a Seleção Colombiana em uma porção de vezes, e na mais notória delas, causou a eliminação de seu país na Copa do Mundo de 1990.

Ficou conhecido mundialmente pelo seu famoso Scorpion Kick - Chute do Escorpião - defesa que aplicou em um amistoso entre Colômbia e Inglaterra, onde defendeu um cruzamento despretensioso com um chute pelas costas, suspenso no ar, e ainda por cima, sobre a linha do gol.

Apesar de seu estilo temerário de atuar, Higuita foi um dos goleiros mais marcantes da América do Sul, sendo eleito pela IFFHS como o oitavo maior goleiro da história do continente. Se não é considerado o maior goleiro da América, certamente é considerado como o goleiro mais feio e excêntrico de todos os tempos, não só de seu continente, mas do planeta inteiro!



Lateral-Direito: Abel Xavier

Este inigualável lateral português não se destaca tanto pela falta de beleza, mas sim pelos inúmeros e inexplicáveis cortes de cabelo, além da coloração que aplicava no mesmo e na sua vasta barba.

Um bom lateral-direito, que se destacou inicialmente na Eurocopa de 1996, Abel descolore, desde este torneio, absurdamente, seu grande cabelo e sua barba, tornando-o um alvo fácil para os espectadores.

Xavier teve uma boa carreira, atuando por grandes clubes do Futebol mundial, como o PSV, Everton, Liverpool, Galatasaray, Roma e Los Angeles Galaxy. Entretanto, chamou a atenção mesmo pelo seu visual fantástico.






Zagueiro Central: Taribo West

Ah, o legendário zagueiro nigeriano de cabelos verdes.

Este ícone do Futebol africano marcou época pelos seus cortes de cabelo incríveis, mais precisamente, variações de tranças verdes no topo de sua cabeça, sem mais nenhum tecido capilar. Some isso a uma beleza exótica, que assombrava tanto os atacantes adversários quanto os espectadores.

West defendeu a Nigéria nas Copas do Mundo de 1998 e 2002, onde surgiu para a atenção dos torcedores do mundo todo. Era um jogador vigoroso e muito forte, que defendeu clubes como a Inter e o Milan.






Quarto Zagueiro: Trifon Ivanov

Simplesmente, o "Lobo Búlgaro". O rei dos feiosos do Futebol, Trifon Ivanov merece a braçadeira de capitão desta equipe tão singular.

Presença marcante nos álbuns de figurinhas da Copa do Mundo, este lobisomem contemporâneo foi presença constante na ótima geração da Bulgária na década de 90, disputando as Copas do Mundo de 1994 e 1998.

Um jogador que se destacou, injustamente, mais pelos horríveis cortes de cabelo e barba muito malfeita, Ivanov era um zagueiro de boa qualidade técnica, inclusive, um grande cobrador de faltas e dono de ótimos chutes de longa distância.






Lateral-Esquerdo: Paul Breitner

Um dos maiores craques da história do Futebol alemão, Breitner impressionava pela grande técnica e pela sua liderança nata dentro de campo. Entretanto, assustava pelo visual um tanto quanto desleixado.

Exibindo um cabelo Black Power de dar inveja à qualquer um dos Jackson Five e uma barba digna de um mendigo dos mais sujos, Breitner era figura inconfundível na Seleção Alemã e no Bayern de Munique, onde conquistou diversos títulos, entre eles, a Copa do Mundo de 1974 e a UEFA Champions League.






Centro-Médio: Norbert "Nobby" Stiles

Uma escolha difícil entre os volantes, Nobby é, se não o jogador mais feio de toda a história do esporte bretão, o mais bizarro entre todos.

O violento Stiles, volante da Seleção Inglesa da Copa de 1966, além de um ser pouco provido de beleza exterior, fazia questão de jogar sem a chapa que utilizava na sua dentição, o tornando ainda mais horrível.

Conquistou a Copa do Mundo de 1966 pela Inglaterra, além de diversos títulos pelo Manchester United, aterrorizando o mais corajoso atacante adversário.






Meia-Direita: Ronaldinho

Talvez o mais técnico entre os onze titulares desta seleção, Ronaldinho é uma das figuras mais estranhas a pisar num gramado. Com seu belo e longo cabelo, além de sua dentição projetada à frente do rosto, Ronaldinho assusta seus marcadores com sua beleza inigualável.

Um dos maiores craques a surgirem do Brasil, ganhou a Copa do Mundo de 2002, bem como a UEFA Champions League da temporada 2005-06, além de ser eleito o melhor jogador do mundo nos anos de 2004 e 2005.




Meia-Esquerda: Carlos Valderrama

O grande Carlos Valderrama é um dos jogadores mais reconhecidos de todo o planeta, tanto pelo seu grande Futebol, quanto pela sua falta de beleza física. Dono de um cabelo maravilhosamente crespo e amarelo, além de um bigode clássico, é uma das figuras mais marcantes a pisarem em um campo de Futebol de todos os tempos.

Apesar de tudo, foi um dos maiores meias a surgirem da América do Sul, capaz de passes milimétricos e dribles inteligentes, tornando-o um dos grandes craques de sua geração.






Ponta-Direita: Franck Ribéry

Não se trata do jogador mais exótico, nem do mais estranho. Mas Franck Ribéry talvez seja o jogador mais feio do mundo, na pureza de sua falta de beleza exterior.

Além de nascer naturalmente desprovido de beleza, Ribéry sofreu um grave acidente de carro na sua infância, o que deixou uma cicatriz enorme em seu rosto. Obviamente, o fato não contribuiu para melhorar seus atributos físicos.

Excluindo-se o fato de ser um dos craques mais feios do mundo, trata-se de um atleta instigante, dono de grande agilidade, técnica apuradíssima e ótima visão de jogo, tornando-se o ponta-direita ideal desta seleção inusitada.






Centroavante: Iain Dowie

Trata-se de um jogador que apenas lembra vagamente a figura de um ser humano.

Iain Dowie é um ex-centroavante matador, jogando por 18 anos na Premier League, inclusive por clubes como Fulham, West Ham e Southampton.

Entretanto, é lembrado não tanto pelos seus frequentes gols, mas sim pela sua beleza inigualável. Dowie assusta até a pessoa que menos releva a questão física do ser humano. É comparado, seguidamente, e, infelizmente, com justiça, ao simpático monstro Sloth, do filme Os Goonies.






Ponta-Esquerda: Carlos Tévez

Este craque argentino é um verdadeiro guerreiro, tanto no campo de Futebol quanto na vida. Mas isso não o impede de ser um dos grandes feios da história do esporte bretão.

Nascido, assim como seu companheiro Ribéry, com uma feiura considerável, sofreu um acidente com uma chaleira cheia de água quente quando era criança, o que lhe causou uma queimadura de terceiro grau, estendendo-se da sua orelha direita até seu peito.

Nada disso o impediu de se tornar um dos maiores jogadores a surgirem de La Bombonera, se tornando querido na Argentina, no Brasil e na Inglaterra, distinguindo-se pela sua grande técnica, raça e belos dotes físicos.





Banco de Reservas - Menções Honrosas:




Goleiro: Jim Leighton

Outro desdentado na seleção dos mais feios, Leighton foi um dos goleiros com o maior número de convocações pela Seleção da Escócia, com 91 atuações pelo Tartan Army. Jogou também pelo Aberdeen e pelo Manchester United.









Zagueiro: Joleon Lescott

Mais um acidentado na nossa lista, Lescott sofreu um atropelamento quando criança, fato que deixou cicatrizes enormes na sua testa e na linha do cabelo.

O visual lhe rende a fama de um dos zagueiros mais durões e viris da Inglaterra, sendo presença regular na Seleção Inglesa e titular do Manchester City.









Zagueiro: Iván Campo

O jogador mais versátil desta lista, e certamente, um dos mais feios. Além da sua vasta cabeleira e barba mal feita, Iván Campo era um marcador feroz, sendo expulso diversas vezes na sua carreira.

Passou por grandes clubes do Futebol mundial, como o Valencia, Real Madrid e Bolton Wanderers, mostrando seu lado durão e intimidador para os pobres meias e atacantes que o enfrentavam.








Volante: Amaral

O "Coveiro", como era conhecido carinhosamente pelos torcedores brasileiros, trata-se de uma das figuras mais tarimbadas do Futebol nacional.

Volante incansável e marcador de fibra, Amaral atuou por diversos grandes clubes, ganhando inúmeros torneios nacionais e internacionais.








Atacante: Djibril Cissé 

Uma figura deveras exótica, Cissé tem o diferente costume, assim como Abel Xavier, de pintar seus cabelos e barba, seja descolorindo os seus pelos, ou variando para cores como verde e azul, dependendo do time que defende. Não fosse suficiente tamanha bizarrice, é cheio de tatuagens pelo seu corpo todo.

Jogou pelo Liverpool, Marseille e Lazio, sofrendo lesões gravíssimas durante a sua carreira, mas se caracterizando por ser um atacante impiedoso, rápido e ótimo finalizador.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Craques que Nasceram no País Errado: Alexi Lalas

O Craque que Nasceu no País Errado deste post não é tão craque assim. Aliás, era um jogador de qualidade técnica razoável. Entretanto, foi um dos grandes ícones do Futebol mundial na década de 90, pela sua figura vistosa e chamativa, além de seu carisma inigualável.

Estamos falando de Alexi Lalas.

Panayotis Alexander Lalas nasceu em Birmingham, Michigan, Estados Unidos no dia 1º de junho de 1970, filho de pai grego e de mãe norte-americana.

Apesar de o futuro reservar uma carreira profissional no Futebol, Alexi passou a demonstrar interesse pelo esporte apenas aos onze anos de idade, um fato um tanto curioso. O jovem Lalas começou a jogar pela sua escola de ensino médio, a Cranbrook Kingswood School, e foi eleito o melhor jogador do seu estado no ano de 1987. Tinha tempo, também, de praticar hóquei no gelo, mas não seguiu carreira profissional.

Como de costume nos esportes nos Estados Unidos, Lalas passou a fazer parte da Rutgers University, jogando na universidade por quatro temporadas, entre 1988 e 1991. Foi finalista do Campeonato Nacional em 1990, e em 1991 fez parte do melhor time do país.

Após disputar as Olimpíadas de 1992 pela Seleção Americana, fazendo parte de um time que tinha futuras grandes figuras do Futebol norte-americano, como Brad Friedel, Claudio Reyna, Mike Burns, Joe-Max Moore e Cobi Jones, Lalas se destacou, conseguindo um teste para jogar na equipe principal do Arsenal, por meio de um ex-jogador do clube londrino, Bob McNab.

Infelizmente, Alexi não se mostrou apto para jogar em alto nível, recebendo poucas chances de treinar com o time principal, sendo relegado à equipe reserva e cortado do grupo de jogadores, retornando depois de pouco tempo aos Estados Unidos.

Depois de um breve hiato na carreira profissional, foi convocado para a Copa do Mundo de 1994, a ser disputada na sua terra natal, onde apareceu definitivamente para o mundo inteiro.

O time americano fez a sua melhor campanha na história das Copas até então, chegando até as oitavas de final, empurrado pela força de sua torcida. Além da campanha surpreendente, o esquadrão ianque contava com várias figuraças, destacadas especialmente pelo visual exótico e pelo carisma.

Figuras peculiares, como o goleiro Tony Meola, o zagueiro Marcelo Balboa, o meia Cobi Jones e o próprio Alexi Lalas chamavam a atenção do mundo inteiro, com o último sendo o maior representante do esquadrão americano.

Além de suas boas atuações dentro de campo, Lalas era um jogador muito carismático, desfilando seus longos cabelo e barba ruivos pelos estádios americanos. Ganhou fama, também, por ser roqueiro, aparecendo diversas vezes na mídia internacional tocando seu violão e cantando músicas.

Sua fama o levou a disputar a Primeira Divisão da Itália, pelo pequeno Padova. Disputou 33 partidas oficiais pelo clube, marcando três gols, inclusive sobre o Milan e a Internazionale. Entretanto, não conseguiu evitar o descenso do clube, acabando na lanterna do Campeonato Italiano da temporada 1994-95.

A Major League Soccer, planejando a sua temporada de estreia, contratou Lalas para ser alocado a um dos novos clubes. Entretanto, dificuldades na execução do projeto fizeram com que a liga emprestasse Lalas de volta para o Padova, com o objetivo de manter sua forma física e ritmo de jogo. Disputou mais onze partidas, desta vez, sem marcar gols.

Em 1996, a MLS conseguiu realizar sua temporada inaugural. Como uma das estrelas da competição, juntamente com craques como Carlos Valderrama, Marco Etcheverry, Jorge Campos, Eric Wynalda, Preki e Leonel Álvarez, Alexi foi alocado a uma das dez equipes do torneio. Como resultado, foi escolhido para integrar o New England Revolution.

Disputou as duas primeiras temporadas da MLS pelos Revs, sendo presença constante na linha de defesa, e consolidando-se como um dos melhores jogadores de sua geração.

Em novembro de 1997, o New England Revolution o emprestou por um mês ao Emelec, do Equador. Na sua volta, descobriu que havia sido trocado para o MetroStars, junto com o seu companheiro da Copa de 1994, Tony Meola.

Jogou uma temporada pelo time de Nova York, e foi trocado para o Kansas City Wizards, onde também passou uma temporada.

Desgostoso consigo mesmo, abandonou sua carreira profissional, passando a trabalhar na televisão, comentando partidas e participando de mesas redondas. Descobriu, nesse período fora do Futebol, um talento nato de se comunicar com os telespectadores, aproveitando seu grande carisma e simpatia com o público.

Mudou de ideia em 2001, quando assinou contrato com o Los Angeles Galaxy. Na Califórnia, conquistou os únicos títulos da sua carreira, começando com a Copa dos Campeões da CONCACAF da temporada 2000-01.

Em 2002, conquistaria a tríplice coroa dos Estados Unidos junto com o Galaxy: a MLS Supporters' Shield (Campeonato da Temporada Regular), a MLS Cup (Campeonato dos Playoffs) e a MLS Open Cup (a Copa dos Estados Unidos), e foi eleito para o melhor time da temporada do mesmo ano.

Decidiu pendurar as chuteiras depois da temporada 2003, encerrando uma carreira de profissional de apenas nove anos, mas deixando uma legião de fãs e seguidores pelo mundo.

Apareceu em 96 oportunidades com a camisa do US Men's National Team, marcando nove gols. Fez parte dos times americanos que disputaram as Copas do Mundo de 1994 e 1998, bem como das equipes olímpicas de 1992 e 1996, como um dos jogadores acima da idade máxima.

Lalas teve passagens como Diretor Executivo de três times da MLS, sendo contratado por um grupo de investidores que comandava algumas equipes. De 2004 a 2008, foi cartola de, respectivamente, San Jose Earthquakes, New York MetroStars - e participou na transição para New York Red Bulls - e Los Angeles Galaxy, ajudando o clube a trazer David Beckham para os Estados Unidos.

Atualmente, é um dos comentaristas mais conhecidos da ESPN e da ABC Sports.

Apesar de Alexi Lalas não ter se destacado tanto como jogador, era um zagueiro de bom porte físico, com ótimo cabeceio e muita força. Não teve grande sucesso tanto nos clubes quanto na seleção nacional, mas deixou a sua marca pelo seu carisma e pela sua energia.

Por ter passado por uma fase de transição do Futebol nos Estados Unidos, não teve muito sucesso a nível de títulos.

Entretanto, é um dos responsáveis pela difusão do Futebol como esporte popular nos Estados Unidos, e até hoje é um dos grandes embaixadores da prática no país. Se tornou, também, uma das figuras mais reconhecidas até hoje no mundo futebolístico.

Com certeza, tivesse Lalas nascido na Europa, teria tido muito maior visibilidade, tanto pela sua personalidade divertida e amigável, quanto pelo seu modo de levar a vida. Afinal, quem não se lembraria de um craque ruivo, com cara de roqueiro, jogando por uma grande seleção nacional?

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Craques que Não Assistimos Jogar: Giuseppe Meazza

Às vezes, falar de um grande craque pode ser muito fácil. Porém, em algumas oportunidades, a maioria das coisas que se fala de uma pessoa desse tipo pode ser muito pouco perto de sua verdadeira relevância.

O Craque que Não Assistimos Jogar do post de hoje foi o maior futebolista de sua geração. Entretanto, não teve a exposição que lhe era devida, por surgir em uma época negra do esporte e do mundo em si. Jogou grande parte de sua carreira em meio à II Guerra Mundial.

Falamos hoje de Il Balilla, Giuseppe Meazza.

Peppino, como era conhecido pela família, nasceu em 23 de agosto de 1910, em Milão, Itália, cresceu sem o pai, morto em uma batalha da I Guerra Mundial. Sua mãe trabalhava em uma feira, e o jovem seguidamente a ajudava no trabalho. Mas desde muito jovem, seu maior passatempo era o Futebol, jogando bola nas ruas de Milão, com uma bola de pano.

Aos doze anos de idade, com o consentimento da mãe, passou a praticar Futebol seriamente, jogando pelo Gloria F.C., um pequeno clube local, onde ganhou as primeiras chuteiras de sua vida como presente de um torcedor.

Meazza, na época, torcedor do Milan, tentou a sorte no clube Rossonero, mas foi rejeitado pelo porte físico franzino. A Inter de Milão, que nada tinha a ver com isso, o contratou depois de um olheiro o encontrar na rua fazendo embaixadinhas com uma bola de pano.

Passou a ser alimentado com bifes de carne pelos treinadores, para ganhar corpo. Inexplicavelmente, passou a ser usado na defesa quando chegou às categorias de base do clube, mas o erro foi corrigido brevemente.

Aos 17 anos de idade, foi realocado para a equipe principal. A transferência do jovem Meazza levou o seu companheiro Leopoldo Conti, bem mais velho e experiente, a cunhar uma célebre frase: "Agora pegamos jogadores até do jardim de infância!".

Giuseppe estreou em uma vitória de 6 a 2 contra a Milanese Unione Sportiva, marcando dois gols e deixando seus companheiros boquiabertos com sua impressionante habilidade e categoria, incluindo Conti. Começava nesta partida uma carreira fantástica.

Na sua primeira temporada como profissional, 1929-30, marcou 38 gols em 29 partidas, até hoje recorde absoluto de tentos marcados por um estreante no Campeonato Italiano. Nesta mesma temporada, ajudou a Internazionale - na época, por ordem do ditador Benito Mussolini, chamada de Ambrosiana, por ser um nome mais adequado ao Fascismo reinante na época - a conquistar seu primeiro título italiano em 10 anos.

Em 1933, Meazza fez uma curiosa aposta com o goleiro e capitão da Seleção Italiana e da Juventus, Giampiero Combi. O goleiro bianconero declarava que nenhum jogador, nem mesmo Meazza, poderia o driblar para marcar um gol. A aposta se tornou ainda maior, quando Meazza marcou um gol de bicicleta em Combi em treinamento da Azzurra. Combi o desafiou a fazer o mesmo em uma partida oficial. Meazza, de pronto, aceitou o desafio.

No dia 25 de maio de 1933, na Arena Civica de Turim, Ambrosiana e Juventus jogaram partida pelo Campeonato Italiano. Giuseppe marcou dois gols: o primeiro, em uma bicicleta fabulosa, idêntica àquela que havia batido Combi; o segundo, depois de uma jogada espetacular, onde driblou uma série de defensores bianconeri, chegando à frente de Combi, driblando-o e marcando um lindo gol. Giampiero, prontamente, ergueu-se e apertou a mão do jovem milanês.

Meazza era um homem de comportamento bastante questionável. Um apaixonado por cigarro, champanha e mulheres, quase arranjou problemas com os diretores da Ambrosiana por diversas vezes. Por sorte, morava muito perto do estádio, tendo chegado várias vezes para as partidas apenas alguns minutos antes do apito inicial. Um craque, quase sempre compensava seus vícios com muitos gols e atuações esplendorosas.

No ano de 1934, atingiria sua primeira grande glória, fazendo parte do esquadrão italiano que disputou a Copa do Mundo em seu próprio país.

Giuseppe seria uma das peças fundamentais da Azzurra para a primeira conquista do Mundial, jogando em todas as partidas, marcando dois gols e várias assistências. Foi particularmente importante na semifinal, contra a Áustria, considerada a melhor seleção da época, bem como na final, contra a Tchecoslováquia, onde jogou lesionado e ajudou a Itália a vencer na prorrogação, depois de um jogo tortuoso.

Em 1938, novamente em uma Copa do Mundo, desta vez disputada na França, Meazza brilharia. Capitaneando a Squadra Azzurra, jogou em todas as partidas, marcando um gol - de pênalti, contra o Brasil, segurando os calções rasgados por um defensor adversário - e atuando primorosamente em todos os jogos.

Antes da partida final do torneio, contra a surpreendente Hungria, recebeu um telegrama do ditador Benito Mussolini, com o seguinte e incisivo recado: "Vençam ou morram!". Diante da condição dada por Il Duce, Meazza e seus companheiros não titubearam, vencendo a partida por 4 a 2 e conquistando pela segunda vez o laurel de campeões do mundo. Peppino, como capitão, ergueu a taça Jules Rimet.

Ainda pela Ambrosiana, conquistou os Campeonatos Italianos das temporadas 1937-38 e 1939-40, além da Coppa Italia de 1939, a primeira da história do clube. Estes seriam seus últimos títulos como jogador de Futebol.

Após uma lesão que o tirara de boa parte da temporada 1939-40, se transferiu para o Milan em novembro de 1940. Se tornou talvez o jogador mais importante a fazer a troca imediata entre os dois clubes rivais do Derby della Madonnina.

Em fevereiro de 1941, fez seu primeiro derby pelos Rossoneri. Apesar de ter chorado copiosamente nos vestiários antes do início da partida, tamanho o seu amor pelo clube anterior, jogou admiravelmente, e fez o gol de empate da partida, que terminou em 2 a 2.

Jogou pelo Milan até o ano de 1942, quando se transferiu para a Juventus. Em Turim, estava acima do peso, sem a velocidade e a agilidade que o caracterizaram durante sua carreira. Apesar disso, marcou 10 gols atuando como centroavante.

Passaria, já no final de sua carreira, pelo Varese e Atalanta, voltando em 1946 para a Internazionale - agora com seu nome original - para ser treinador-jogador. Jogaria por um ano, ajudando a Inter a evitar o rebaixamento para a Segunda Divisão, encerrando então sua carreira.

Foi treinador da Internazionale, do Atalanta, do Pro Patria, da Seleção Italiana e do Beşiktaş, sendo o primeiro treinador italiano a comandar um clube estrangeiro. Enquanto treinador das categorias de base da Inter, descobriu outra lenda do clube, o jovem Sandro Mazzola.

Faleceu em 21 de agosto de 1979, com quase 69 anos completos de idade, na cidade de Rapallo, na Itália.

Meazza era um verdadeiro monstro sagrado do Futebol. Em meio à uma época muito violenta e de força nos gramados, Peppino era um dos poucos lampejos de categoria e leveza no continente europeu.

Um jogador de habilidade incomparável, possuía grande elegância e categoria para jogar. Driblava seus adversários com facilidade estonteante, possuía grandiosa visão de jogo, chutava com maestria e era um grande cabeceador - um grande feito, pois media apenas 1,69 m.

Tratava-se de um meio-campista com dom de atacar, era um grande distribuidor de jogo, comandando as operações dos ataques de todas as suas equipes, com fluidez e eficácia. Chegava, às vezes, a humilhar seus adversários com suas fintas inacreditáveis.

Sua marca registrada eram os gols em que atravessava o campo de jogo a dribles, batendo os defensores um a um, até chegar sozinho ao goleiro. Em frente ao guarda-metas, fingia um chute, para driblá-lo com facilidade e marcar tranquilamente. Até hoje, gols feitos de forma similar são chamados de "Gol alla Meazza", italiano para Gol à la Meazza.

Ambidestro, era um excelente passador da bola, além de ser um grande cobrador de pênaltis. Enganava os goleiros com sua astúcia, fingindo chutar em um canto para mandar a bola para as redes em outro. Instituiu, magistralmente, o estilo chamado pela imprensa de "Fasso-tutto-mi", um neologismo italiano para um jogador que fazia tudo por si.

Foi também um pioneiro nos patrocínios e na exploração de sua imagem, sendo o primeiro jogador italiano a receber dinheiro de empresas para representar suas marcas, e se tornou o primeiro jogador da Bota a ser conhecido internacionalmente.

Sua vida não era livre de controvérsias, todavia. Um apaixonado por carros, mulheres e bebida, não gostava de treinar nem de saber de tática, além de ser um fumante inveterado. Era, entretanto, o único jogador da Seleção Italiana que poderia praticar tal vício, tamanha a sua importância e habilidade.

Também, foi um dos primeiros jogadores a conquistar dois títulos de Copa do Mundo, juntamente com Giovanni Ferrari, Guido Masetti e Eraldo Monzeglio. São, até hoje, os únicos europeus a atingirem este feito.

Foi artilheiro do Campeonato Italiano em três oportunidades, bem como da Copa da Europa Central pelo mesmo número de vezes, e foi considerado membro do Hall da Fama do Futebol Italiano em 2011. Foi recordista de gols pela Azzurra por muito tempo, até ser batido por Gigi Riva, outro centroavante italiano legendário. Marcou, ao todo, pela Inter, 284 vezes, sendo até hoje o maior artilheiro do clube.

Foi homenageado, mais do que justamente, dando o nome ao tradicional estádio localizado no bairro San Siro, em Milão - hoje chamado de Stadio Giuseppe Meazza.

Jamais poderei escrever o suficiente para caracterizar a grandeza do maior craque da história da Itália. Além de ter sido um jogador que quebrou a barreira da força física e da violência, marcou época pela categoria e pela graça às quais presenteava todos seus espectadores à cada partida.

Apesar das poucas imagens que temos deste monstro sagrado do esporte, temos total consciência da sua enorme contribuição. O pequeno galanteador e craque deixou sua marca na história para sempre, com toda sua personalidade e técnica inigualáveis.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Grandes Times: Os Leões de Lisboa

O Grande Time do post de hoje marcou a história por ser pioneiro de um Futebol jogado de forma ofensiva e bonita, em meio a uma época em que o defensivismo do Catenaccio e o pragmatismo do jogo catimbado e cauteloso imperava na Europa.

Um time formado por jogadores totalmente identificados com o seu clube, comandado por uma grande figura da história da Grã-Bretanha. Misture tudo isso com a paixão que envolve a camisa alviverde do Celtic, e você terá o maior time de sua história, conhecido como Os Leões de Lisboa.

O início de tudo foi a chegada do irreverente treinador Jock Stein ao Celtic Park, em Glasgow, no ano de 1965, em meio a uma temporada conturbada no clube católico. As temporadas anteriores não vinham sendo de todo proveitosas, e o trabalho do legendário comandante era de reerguer os celtas.

Apesar da equipe já estar praticamente montada, contando com os experientes Ronnie Simpson, Bertie Auld e Stevie Chalmers, além das jovens promessas Jimmy Johnstone e Bobby Lennox, faltava um modelo de jogo mais convincente, característica que seria trazida por Stein.

Na primeira temporada com as rédeas do Celtic, Stein conseguiu vencer a Copa da Escócia, batendo o Dunfermline na Final. Na temporada seguinte, 1965-66, venceria o Campeonato Escocês e a Copa da Liga Escocesa.

No entanto, a temporada gloriosa e que levaria os Leões de Lisboa à consagração seria a próxima, 1966-67.

Com um time praticamente igual ao dos anos anteriores, mas contando com o reforço do centroavante Joe McBride, o Celtic encontrou um padrão de jogo insinuante, ofensivo, rápido e forte, que encantava as plateias dos estádios onde passava.

O esquadrão alviverde arrebataria todos os torneios domésticos que disputou: o Campeonato Escocês, a Copa da Escócia e a Copa da Liga Escocesa. Mas a grande glória viria no âmbito continental.

Em uma campanha sólida, passando pelo Zürich, Nantes, Vojvodina e Dukla Praha, respectivamente, o Celtic chegaria à Final da Copa da Europa para enfrentar um timaço: La Grande Inter, comandada pelo legendário Helenio Herrera, inventor do Catenaccio e do anti-jogo, e comandante de uma equipe já campeão do torneio em 1964 e 1965.

Como de praxe, a mídia desportiva ressaltava a suposta categoria superior do esquadrão italiano, apontando como quase certa uma tríplice conquista da Inter, arrebatando três títulos continentais em quatro anos. Para piorar, o artilheiro Joe McBride não atuaria, acometido de uma grave lesão no joelho.

Duplo azar do Celtic: na segunda investida de ataque da Inter, Jim Craig cometeu um pênalti infantil sobre Sandro Mazzola. O mesmo não desperdiçou a cobrança, colocando os italianos à frente após apenas sete minutos de partida.

O gol abriria espaço para o jogo tradicional dos italianos, uma retranca impenetrável, explorando apenas os erros do adversário.

Entretanto, o mesmo fato daria início a maior pressão da história do Futebol. Um verdadeiro jogo de ataque contra defesa.

Os escoceses arrematariam por impressionantes 41 vezes a gol, duas destas atingindo o travessão, treze sendo repelidas pelo arqueiro Giuliano Sarti, sete sendo bloqueadas ou desviadas pela defesa italiana e as restantes não indo em direção à meta.

Finalmente, aos 18 minutos do segundo tempo, Craig se redimiria, carregando a bola pelo flanco direito e servindo o lateral-esquerdo Tommy Gemmell, que fuzilou a bola para o fundo das redes.

Ingratamente para a Inter, aos 39 minutos do segundo tempo, quando a partida se encaminhava para uma tortuosa prorrogação, Steve Chalmers desviou um chute longo de Bobby Murdoch, marcando o segundo gol dos alviverdes e sacramentando a vitória histórica: 2 a 1.

Um pandemônio se instaurou no Estádio Nacional de Lisboa, com uma enorme quantidade de torcedores escoceses invadindo o gramado para congratular seus heróis. O Celtic se tornou o primeiro clube britânico a vencer a Copa da Europa, e o único clube escocês a atingir tal feito.

Billy McNeill, o capitão da equipe, ergueria a taça em um pódio do estádio, frente à tamanha confusão que se criara no campo.

Os Leões de Lisboa, nome pelo qual é chamado o time que disputou aquela partida, eram os seguintes:

Ronnie Simpson;
Jim Craig, Billy McNeill, John Clark, Tommy Gemmell;
Bobby Murdoch, Bertie Auld;
Jimmy Johnstone, Willie Wallace, Steve Chalmers e Bobby Lennox.

A vitória do Celtic no dia 25 de maio de 1967 determinou a derrocada do estilo defensivo de se jogar Futebol. O resultado foi comemorado pelo mundo inteiro, que via nascer um jeito mais atraente e ofensivo de se praticar o esporte.

A imprensa desportiva, fulgurosa com o resultado, agradecia ao esquadrão alviverde por mostrar o verdadeiro significado do Futebol, trazendo de volta às glórias o jeito efervescente e ofensivista, com força, técnica e criatividade.

Jock Stein se tornou lenda naquela tarde, sendo considerado até hoje um dos maiores treinadores da história do esporte bretão. Permaneceu em Glasgow até 1978, vencendo mais diversos títulos nacionais e chegando a mais uma Final do torneio europeu, em 1970, onde não teve a mesma sorte da primeira oportunidade.

Foi o responsável pelo embrião do que se tornaria o Futebol Total, que explorava a qualidade técnica e a versatilidade de todos os atletas dispostos no campo, com velocidade, alta frequência de passes e muitas chegadas na goleira adversária.

Ainda, um fato curioso que engrandeceria ainda mais a imagem dos Leões de Lisboa era que todos os atletas da equipe haviam nascido a, no máximo, trinta milhas de distância do estádio Celtic Park, em Glasgow, o que aumentou ainda mais a identificação da torcida com o escrete.

Jamais o Celtic alçaria vôos tão altos, e nunca mais na história da Escócia, quem sabe até da Grã-Bretanha, foi montado um time tão fulgurante e excitante como este.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Análise Tática - Ajax x Panathinaikos - 02/07/1971

Este post marca o retorno da seção Análise Tática do Catenaccio. O primeiro post da série é de autoria do meu amigo e grande conhecedor de Futebol, Marcelo Almendros, sobre o jogo Brasil e Suécia, no ano passado.

Entretanto, a partir de agora, a ideia é mesclar a análise tática com a história do Futebol. Ao invés de se analisarem partidas recentes, analisaremos jogos históricos, partidas marcantes.

Hoje, analisaremos a Final da Copa da Europa - como sempre ressaltamos, a atual UEFA Champions League - do ano de 1971, disputada entre Ajax, da Holanda, e Panathinaikos, da Grécia.

O Ajax, clube holandês com uma equipe treinada pelo majestoso professor Rinus Michels, que revolucionaria o mundo do Futebol com um jeito inteligente, ousado e eficaz de se jogar bola.

O Panathinaikos, clube grego, treinado no torneio pelo não menos espetacular Ferenc Puskás, que contava com uma equipe de muita raça, pegada e determinação, além do apoio maciço de sua fanática torcida.

Antes de passarmos à análise tática propriamente dita, faremos um breve histórico das campanhas de ambos os times até a partida Final da Copa da Europa.


Ajax:

Com o time campeão holandês da temporada anterior, Rinus Michels comandaria talvez a equipe mais talentosa da competição, contando com craques como o incomparável Johan Cruyff, o jovem Johan Neeskens, os atacantes Piet Keizer e Dick van Dijk, e os meias Gerrie Mühren e Arie Haan.

Entretanto, o início da campanha foi muito conturbado. O Ajax enfrentou, na primeira rodada, o inexpressivo 17 Nëntori Tirana, da Albânia. Depois de um empate inesperado em 2 a 2 fora de casa, bateram o clube albanês em Amsterdam por 2 a 0.

Na segunda rodada, o trabalho foi mais fácil, contra o Basel, da Suíça. No placar agregado de 5 a 1, passaram tranquilamente de fase. 

Nas quartas e semi-finais, o Ajax passaria no placar agregado em ambas oportunidades de 3 a 1, vencendo por 3 a 0 em casa e perdendo de 1 a 0 fora, primeiro para o Celtic, da Escócia, e depois para o Atlético de Madrid, da Espanha.


Panathinaikos:

O Panathinaikos, assim como seu adversário, era o campeão nacional do ano anterior. O ex-craque Ferenc Puskás treinava o esquadrão grego, que tinha como grandes talentos o habilidoso meia Dimitris Domazos, o maior jogador da história de seu país, e o artilheiro da competição, Antonis Antoniadis, centroavante guerreiro e ótimo cabeceador. No restante, tratava-se de uma equipe apenas disciplinada e raçuda.

Enfrentou o Jeunesse Esch, de Luxemburgo, na primeira fase, passando com facilidade no placar agregado de 7 a 1. Na segunda fase, enfrentariam o Slovan Bratislava, na época, da Tchecoslováquia, vencendo a primeira partida por 3 a 0, em Atenas, e perdendo o segundo jogo por 2 a 1.

Nas quartas-de-final, o Pana enfrentaria o forte e tradicional Everton, da Inglaterra. Contrariando as expectativas, os gregos alcançariam a fase semi-final, empatando as duas partidas, a primeira em Liverpool por 1 a 1 e a segunda, em Atenas, em 0 a 0. Logo, se classificaram devido ao gol marcado fora de casa.

Quem esperava os gregos no enfrentamento era o poderosíssimo e assustador Estrela Vermelha, da Iugoslávia. A expectativa, mais uma vez, era de um atropelo para cima do Panathinaikos, o que de fato aconteceu na primeira partida, uma vitória de 4 a 1 para os iugoslavos em Belgrado. Placar irreversível? Não para os guerreiros atenienses!

Em um Apostolos Nikolaidis - estádio do Panathinaikos - completamente lotado, e com o apoio de uma torcida apaixonada, que empurrou o seu time o tempo todo, o Pana conseguiu vencer o Estrela Vermelha pelo placar de 3 a 0, em um jogo tenso e emocionante, com dois gols do matador Antoni Antoniadis. Os gregos chegariam a Final se classificando, mais uma vez, pelo gol marcado fora de casa.

Seria a primeira e única vez na história de todas as competições interclubes europeias que um clube grego alcançou a partida Final.


O Jogo e Análise Tática:

Escalações e Formação:

O Ajax foi a campo com: Stuy; Neeskens, Hulshoff, Vasovic, Suurbier; Rijsders, Mühren, Cruyff; Swart, van Dijk e Keizer. Técnico: Rinus Michels.

O Panathinaikos estava escalado com: Ikonomopoulos; Tomaras, Kapsis, Sourpis, Vlahos; Kamaras, Eleftherakis, Domazos; Grammos, Antoniadis e Filakouris. Técnico: Ferenc Puskás.

Ambas as equipes atuaram no 4-3-3, com os desenhos táticos conforme demonstrado na figura abaixo.























Análise Tática:

Embora os dois times estivessem dispostos territorialmente no 4-3-3, formação tradicional do Futebol e em voga na época, ressalta-se aqui a diferença de movimentação e de posicionamento entre as duas equipes.

O Panathinaikos atuava de forma estática em relação à sua formação, ou seja, raramente os atletas alternavam posições entre si, não se distanciando de seu ponto referencial no campo. Em poucas oportunidades, Domazos, o jogador mais técnico da equipe, se movimentava com maior liberdade para tentar criar chances de ataque.

Já a equipe do Ajax dava a primeira amostra do que seria o Futebol Total - modelo de jogo adotado pelo próprio time, e depois, pela Seleção Holandesa - com praticamente todos os seus jogadores em movimentação constante, ocupando os espaços deixados uns pelos outros com muita frequência.

Para se ter uma ideia, apenas três jogadores se mantinham praticamente estáticos em relação ao seu posicionamento: obviamente, o goleiro Stuy, e os zagueiros, Hulshoff e Vasovic. O restante se movimentava freneticamente, alternando posições e trocando passes com precisão.

Abaixo, demonstraremos o posicionamento do meio de campo de ambas as equipes.

Como pode-se perceber, o Panathinaikos atuava com um triângulo de base alta, ou seja, um centro-médio e dois meias, com Eleftherakis fazendo o papel de contenção, Kamaras atuando mais como apoiador e Domazos responsável pela criação da equipe.

O Ajax também atuou com três meio-campistas, embora sem uma formação definida entre eles:


Embora a figura demonstre um triângulo de base baixa, essa disposição era variável. Os três meias tanto faziam o papel de centro-médios quanto de meias de armação, devido ao sistema de movimentação ao qual já nos referimos antes.

Outro ponto que é de importante notoriedade é a intensa marcação imposta pela equipe de Amsterdam.

Uma novidade para a época, a marcação por pressão alta era característica da maioria dos times holandeses. O Ajax, sempre que se iniciava um ataque da equipe grega, pressionava o detentor da posse de bola, como demonstraremos na imagem a seguir:


Esta imagem demonstra claramente a marcação exercida pelos holandeses. Neste frame, demonstra-se a pressão alta com seis jogadores da equipe do Ajax, prejudicando a saída de jogo do Panathinaikos.

Com isso, a equipe grega não conseguiu trabalhar a posse de bola na sua capacidade técnica total, forçando passes longos visando o atacante Antoniadis, que tinha raro sucesso entre os dois zagueiros nederlandeses.

Ao contrário de seus adversários, o Ajax trabalhava a posse de bola com muitos passes e com muita movimentação, explorando a versatilidade e a capacidade técnica de todos os seus jogadores, sem exceção.

Além da superioridade tática, o Ajax contava com jogadores de grande capacidade técnica, como Johan Cruyff, que atuou pelo lado esquerdo, ora como meia, ora como ponta, explorando as jogadas individuais e passes verticais.

Um outro ponto peculiar foi a utilização do meia Johan Neeskens na lateral-direita. Na verdade, é uma característica das categorias de base do Ajax, que experimenta jogadores jovens em posições fora das suas originais, para fazê-los passarem pela experiência dos jogadores adversários.

Esses fatos, apesar da grande raça e vontade de vencer da equipe grega, levaram à vitória tranquila dos holandeses por 2 a 0, e o título incontestável de Campeão da Europa.


Resumo da Partida:

O Ajax abriu o placar já no início da partida, depois de boa jogada do ponta-esquerda Keizer, cruzando para a cabeçada precisa do centroavante van Dijk, marcando 1 a 0.

A partida se desenrolou com diversas chances desperdiçadas pelo esquadrão alvi-rubro, atacando com facilidade entre os espaços obtidos entre a equipe do Panathinaikos.

Os gregos, contando com a técnica de Mimis Domazos, tentaram incessantemente a ligação direta com seu centroavante, Antonis Antoniadis, levando perigo poucas vezes ao gol de Stuy.

A dominação durou toda a partida, culminando com o segundo gol dos holandeses, marcado pelo meia Arie Haan, que entrou no segundo tempo, aproveitando uma assistência fantástica de Cruyff, depois de jogada individual pelo flanco direito. O arremate ainda desviou em um defensor do Panathinaikos, tirando as chances de defesa do arqueiro Ikonomopoulos.

Esta seria a primeira grande amostra da revolução futebolística que viria dos Países Baixos, criada pelos holandeses, o Futebol Total.

O Ajax, jogando com a mesma base da equipe, mas já sem o treinador Rinus Michels, conquistaria a Copa da Europa nos dois anos seguintes, impressionando o mundo.

O reflexo do Futebol Total seria ainda mais amplificado na Copa do Mundo de 1974, com a seleção da Holanda, treinada por Rinus Michels, que espantaria o planeta com a forma inteligente e revolucionária de se praticar o esporte bretão.

O modelo de jogo criado pelos holandeses é utilizado, em variações, até os dias de hoje, aliado ao preparo físico cada vez mais forte dos atletas que o usam, bem como explorando as deficiências técnicas e táticas que assolam o Futebol atual.

Abaixo, segue o vídeo da partida na íntegra. Bom proveito!

 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Grandes Treinadores: Ernst Happel

Uma máquina de ganhar títulos.

Essa é a única introdução razoavelmente justa que se pode dar ao Grande Treinador do post de hoje, o lendário Ernst Franz Hermann Happel, conhecido popularmente apenas como Ernst Happel.

Ernst nasceu em Viena, no dia 29 de novembro de 1925, e começou a jogar Futebol nas categorias de base do Rapid Viena, aos 13 anos de idade. Estrearia na equipe principal com 17 anos, e defenderia o clube por 14 temporadas, em duas passagens, de 1942 a 1954 e 1956 a 1959. Entre os dois períodos jogando no Rapid, passou pelo Racing Club Paris - hoje Racing Club Colombes - por uma temporada.

Formou uma grande dupla com o veterano defensor Max Merkel, ganhando diversos títulos com o Rapid Viena, e recebendo a alcunha de Der Zauberer - alemão para "O Mago". Foi campeão da Bundesliga austríaca em seis temporadas - 1946, 1948, 1951, 1952, 1954, 1957 - da Copa da Áustria em 1946, e da Zentropa Cup - antigo torneio interclubes disputado na Europa Central - em 1951.

Era também uma presença constante na Seleção da Áustria, atuando em 51 partidas oficiais, marcando seis vezes. Fez parte dos esquadrões austríacos que disputaram as Copas do Mundo de 1954, na Suíça, e de 1958, na Suécia.

Iniciou uma das mais prolíficas carreiras de treinador em todos os tempos no ano de 1963, assumindo o comando do ADO (hoje conhecido como ADO Den Haag), da Holanda, clube que não obtinha sucesso a nível nacional desde 1943, quando ganhou o último título nacional de sua história.

O jovem treinador implantou um sistema diferente de jogo para os padrões holandeses da época, trabalhando para obter um excelente preparo físico de seus jogadores e marcando as equipes adversárias em pressão alta. De uma certa maneira, contribuiu de forma primordial para o desenvolvimento do estilo mais famoso de se jogar Futebol em toda a história, o Futebol Total.

Apesar de obter grande sucesso com o clube, parecia destinado a se manter apenas como coadjuvante com relação a títulos, chegando por três vezes à final da KNVB Cup - a Copa da Holanda - e perdendo todas elas, para o Willem II, Fortuna Sittard e Sparta Rotterdam, respectivamente.

Entretanto, a maré viraria para o competente treinador austríaco no ano de 1968, quando, mais uma vez, o ADO chegou à final da KNVB Cup. Nesta oportunidade, o título não escaparia das mãos dos comandados de Happel, que bateram o poderoso Ajax por 2 a 1.

Happel seria contratado pelo Feyenoord, no ano de 1969, tendo em vista a sua surpreendente trajetória comandando o pequeno clube da cidade de Haia. Em Rotterdam, conquistaria suas primeiras glórias de grande porte.

Já na sua primeira temporada sob a batuta do esquadrão do De Kuip, a de 1969-70, conquistou a Copa da Europa (hoje UEFA Champions League), em uma jornada fantástica, derrotando Milan, Vörwarts Berlin e Legia Varsóvia, culminando com uma Final contra o legendário Celtic de Jock Stein, time que era conhecido como os Leões de Lisboa, campeões do mesmo torneio em 1967.

A vitória por 2 a 1 no estádio San Siro garantiu o primeiro título do torneio para um clube holandês. Esta conquista lendária elevou Ernst Happel ao status de lenda na Holanda, junto com um grande time, que contava com estrelas da futura Laranja Mecânica, a impressionante Seleção Holandesa da década de 1970, como Rinus Israël, William van Hanegem e Wim Jansen, além do austríaco Franz Hasil e o artilheiro sueco Ove Kindvall.

No mesmo ano de 1970, o Feyenoord disputaria o título da Copa Intercontinental contra o violentíssimo time do Estudiantes de La Plata.

Na temporada anterior, o clube argentino proporcionou uma verdadeira guerra contra o Milan, sendo que na segunda partida, disputada em La Plata, vários jogadores do clube italiano haviam sido agredidos impiedosamente e sem qualquer pudor.

Entretanto, apesar das contínuas provocações dos platinos, e de iniciar a partida perdendo por 2 a 0, Happel e o esquadrão holandês conseguiram um empate heroico, com gols de van Hanegem e de Kindvall, levando um placar neutro para a segunda partida, a ser disputada em Rotterdam.

Jogando em casa, o Feyenoord não deixaria a audácia e a violência argentina levarem vantagem. Numa partida ainda mais violenta e tensa que a anterior, os holandeses venceriam por 1 a 0, com um gol do defensor Joop van Daele, conquistando o título de Campeões Mundiais de Clubes, a maior glória da história do clube.

Happel treinaria o Feyenoord por mais dois anos após a conquista do Mundial, vencendo o Campeonato Holandês na temporada seguinte, 1970-71. Deixaria o clube em 1973, buscando novos desafios e tentando evitar a acomodação de sua carreira. Deixaria muitos amigos, muita história e muita admiração em Rotterdam.

Passou rapidamente pelo Sevilla, da Espanha, onde não conseguiu se adaptar adequadamente, se transferindo em 1975 para o Club Brugge, da Bélgica.

No Brugge, comandaria um time sem estrelas, mas que jogava um Futebol ao seu modelo, de pressão na marcação, toque de bola curto, envolvente e objetivo. Venceria o Campeonato Belga nas três temporadas em que treinou o clube, em 1975-76, 1976-77 e 1977-78. Venceria, também, a Copa da Bélgica na temporada 1976-77.

Ainda, chegaria na Final dos dois maiores torneios continentais da Europa. Na temporada 1975-76, na Copa da UEFA, e na temporada 1977-78, a Copa dos Campeões da Europa. Em ambas as oportunidades, sucumbiria ao poderosíssimo time do Liverpool, multi-campeão no fim da década de 70 e da década de 80.

Em 1978, assumiria talvez o maior desafio da sua vida: treinar a seleção da Holanda para a Copa do Mundo. 

Comandaria uma equipe poderosa, vice-campeã do Mundo em 1974, e que surpreendeu o planeta com uma forma inteligente e eficaz de se jogar Futebol. Tratava-se de um esquadrão de muito talento, embora sem o maior jogador da história do país, Johan Cruyff, aposentado da Seleção Holandesa e que rejeitava jogar em um país sob Ditadura Militar.

Após uma primeira fase conturbada, classificando-se em segundo lugar de seu grupo, apenas pelo saldo de gols maior que a Escócia, a Holanda conseguiu classificação para a Final, batendo a Áustria e a Itália, empatando antes com a Alemanha Ocidental.

Na partida final do torneio, Happel e seus comandados enfrentariam a dona da casa, a Argentina. Após iniciarem perdendo por 1 a 0, com gol de Mario Kempes, a Holanda passou a jogar mais que os anfitriões, empatando aos 36 minutos da segunda etapa em uma cabeçada do reserva Dirk Nanninga. Mas o destino iria trair Ernst Happel.

Aos 45 minutos do segundo tempo, Robbie Rensenbrink acertaria o poste do goleiro Fillol, e a partida se decidiria na prorrogação pela primeira vez na história das Copas.

Mario Kempes marcaria um golaço, uma mistura de pura técnica e raça, aos 14 minutos da primeira etapa, e Daniel Bertoni marcaria um gol irregular, após carregar a bola com a mão dentro da área, sacramentando o resultado de 3 a 1 e a vitória argentina.

Voltaria à Bélgica em 1979, passando brevemente pelo Harelbeke, e assumindo o Standard Liège, onde venceria a Copa da Bélgica na temporada 1980-81 e a Supercopa da Bélgica, em 1981.

No mesmo ano de 1981 assumiria o comando do HSV, também conhecido no Brasil como Hamburgo. O já experiente Happel comandaria, mais uma vez, um time sem grandes estrelas, mas disciplinado taticamente e eficiente nas investidas de ataque.

Venceria o Campeonato Alemão nas temporadas 1981-82 e 1982-83, além da Copa da Alemanha na temporada 1986-87. Seria derrotado, já na sua primeira temporada, pelo Göteborg, na Final da Copa da UEFA.

A sua grande glória no clube hamburguês, entretanto, seria, mais uma vez, continental, e viria no ano seguinte.

Em 1983, o HSV venceria a Copa da Europa, derrotando, respectivamente, Dynamo Berlin, Olympiakos, Dynamo Kiev, Real Sociedad, e na Final, o fantástico esquadrão da Juventus - que contava com Michel Platini, Zbigniew Boniek, Paolo Rossi, entre outros - por 1 a 0, com gol do hoje famoso técnico Felix Magath.

Assim como no Feyenoord, Happel conquistou a maior glória da história do clube em que comandava.

Na sua segunda disputa da Copa Intercontinental, enfrentaria o Grêmio. Desta vez, Ernst Happel não teve a mesma sorte da primeira oportunidade em que disputou o torneio. Mais uma vez, seria derrotado na prorrogação após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar, com dois gols do jovem craque brasileiro Renato Portaluppi, que definiu o placar em 2 a 1.

No ano de 1987, já bastante veterano, retornou à sua terra natal, a Áustria, para finalmente treinar um time local. O destino foi o FC Swarowski Tirol, fundado em 1986, após obter finalmente a licença para disputar a Bundesliga austríaca.

Happel, vencedor nato, conquistou por duas vezes o Campeonato Nacional da Áustria, nas temporadas 1988-89 e 1989-90, bem como a Copa da Áustria em 1989, permanecendo em Innsbruck até 1991, quando assumiria a Seleção da Áustria.

Infelizmente, comandou a seleção de seu país por apenas onze meses.

Ernst Happel faleceu em 14 de novembro de 1992, duas semanas antes de completar 77 anos de idade, em decorrência de um câncer de pulmão, herança de uma vida toda como fumante.

Um homem carinhoso, que amava sua família e o Futebol acima de tudo, era um dos grandes pensadores do  jogo. Estava à frente do seu tempo, instituindo a pressão alta no campo de adversário. Além disso, era uma pessoa calma, que estava sempre de bom humor e passando confiança para seus atletas.

Deu nome, postumamente, ao maior estádio da Áustria, o antigo Praterstadion, hoje, chamado de Ernst Happel Stadion. Em 1990, também recebeu a condecoração da Medalha de Prata da Áustria, por conta dos serviços prestados ao seu país.

Foi eleito o maior treinador da história da Áustria, e foi incluído pela IFFHS como um dos 100 melhores jogadores do Século XX.

É, juntamente com Jupp Heynckes e José Mourinho, um dos únicos treinadores a vencerem a UEFA Champions League por dois clubes diferentes - Feyenoord e HSV - bem como um dos raros treinadores a vencer o Campeonato Nacional por clubes de quatro países diferentes - Feyenoord, Club Brugge, HSV e FC Swarowski Tirol.

Abaixo, segue um resumo dos títulos que Ernst Happel conquistou, tanto como jogador quanto como treinador:

Como jogador:
- Campeonato Austríaco: 1946, 1948, 1951, 1952, 1954, 1957;
- Copa da Áustria: 1946;
- Zentropa Cup: 1951;

Como treinador:
- Copa da Holanda: 1967-68;
- Campeonato Holandês: 1970-71;
- Campeonato Belga: 1975-76, 1976-77, 1977-78;
- Copa da Bélgica: 1976-77 e 1980-81;
- Supercopa da Bélgica: 1981;
- Campeonato Alemão: 1981-82 e 1982-83;
- Copa da Alemanha: 1986-87;
- Campeonato Austríaco: 1988-89 e 1989-90;
- Copa da Áustria: 1988-89;
- Copa da Europa: 1970-71 e 1982-83;
- Copa Intercontinental: 1971.

Cansou? Esse é o currículo resumido de Ernst Happel.

Definitivamente, o mago austríaco faz parte da história do Futebol mundial. Seja pela categoria como jogador, pela inteligência e pelas glórias obtidas na casamata, ou ainda pelo grande homem que foi.

Com certeza, Happel deve estar treinando um timaço no campeonato do Céu. É claro, marcando sob pressão, tocando a bola e chegando na frente da goleira com muita facilidade...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Estrelas Cadentes: Pedro Mantorras

Esta é uma nova seção do Catenaccio, que versará sobre craques que surgiram como grandes figuras do Futebol mundial, e por um motivo ou outro, caíram vertiginosamente de produção ou não corresponderam às expectativas criadas em si pelo público. Chamaremo-nos aqui como as Estrelas Cadentes.

Para estrear a seção, falaremos de um dos grandes atacantes a surgirem do continente africano, e que, por uma série de graves lesões no joelho, acabou por terminar a sua carreira precocemente. Trata-se de Pedro Manuel Torres, carinhosamente conhecido pelo público como Mantorras.

Nascido na cidade de Huambo, em Angola, em 18 de março de 1982, Pedro recebeu a sua alcunha por conta de ter recebido algumas queimaduras leves no corpo. Mantorras, como é conhecido no mundo inteiro, é uma mistura de Mano Torras, uma expressão que quer dizer, aproximadamente, "irmão tostado".

O jovem Mantorras cresceu sem a presença do pai, falecido aos 3 meses de idade, e pouco depois, sem a mãe, que faleceu quando este tinha 16 anos, e em meio à miséria. Apesar das dificuldades, iniciou a carreira pelo Progresso Associação do Sambizanga, clube situado na capital de Angola, Luanda.

Destacava-se pela força, qualidade técnica e frieza na frente da goleira, e chamou a atenção de diversos olheiros, inclusive de clubes como o Barcelona, onde estagiou por alguns meses. Não ficou no clube blaugrana pela impossibilidade de se manter mais um atleta extra-comunitário, vaga esta que seria ocupada por outra promessa africana, o meia-atacante Haruna Babangida.

Apesar de deixar Barcelona, Mantorras continuava muito bem visto pelos clubes europeus, e foi contratado, aos 17 anos, pelo pequeno Alverca, de Portugal, em 1999. O seu impacto seria imediato.

Na temporada 2000-01, a sua última pelo pequeno clube de Lisboa, marcou 9 gols no Campeonato Português, inclusive um em uma fabulosa atuação contra o poderoso Sporting Lisboa, auxiliando os Touros a manterem-se na primeira divisão. Chamou por mais uma vez a atenção de gigantes europeus, especialmente desta vez o Milan. Entretanto, a facilidade com a língua portuguesa falou mais alto, e o Benfica o contratou no final da temporada.

Estreando pelo Benfica na temporada 2001-02, atuou em 30 partidas na Liga e marcou 13 gols, tendo ainda 19 anos de idade, o que impressionou a todos. Na época, foi considerado como o maior jogador a surgir da África Portuguesa depois da lenda Eusébio, e continuava atraindo clubes como a Internazionale e novamente o Barcelona.

O próprio Eusébio declarou, na época, que se tratava de: "um jogador que tem qualidades especiais, e certamente terá um grande futuro pela frente".

Entretanto, Mantorras sofreu uma grave lesão no começo da temporada 2002-03, que o infernizaria até o final da sua carreira. Por muita sorte, o jogador angolano não encerrou sua carreira logo após o ocorrido.

O jovem atacante, na época da lesão com 20 anos de idade, teve de passar por quatro cirurgias num período de dois anos e meio de recuperação.

Conseguiu retornar aos gramados apenas na temporada 2004-05, época em que jogar tornou-se um martírio para ele. Mantorras não conseguia atuar mais de 15 minutos por jogo, devido às incessantes dores na articulação.

Apesar de sua contribuição relativamente pequena nesta temporada, o atacante auxiliou o Benfica a quebrar um jejum que já durava 11 anos, e a vencer o título do Campeonato Português.

Apesar da sua grave lesão, Mantorras, a cada vez que saía do banco de reservas e pisava no gramado, trazia alegria e excitação para os torcedores benfiquenses. O entusiasmo que trazia às partidas em cada atuação, bem como seu declarado amor ao clube benfiquense e a sua entrega dentro de campo o tornaram uma lenda viva do Estádio da Luz. Os poucos momentos em que atuava frente aos seus seguidores eram a parte mais emocionante das partidas.

Seu carinho pelo clube era tanto, que chegou a declarar que com certeza se aposentaria lá, e trabalharia até de graça.

Mesmo depois de totalmente recuperado e apto para disputar partidas inteiras, o atacante angolano jamais retornou à sua forma original, não logrando sucesso em disputar posição com os outros atacantes titulares da equipe.

No início do ano de 2011, após ter jogado apenas 10 minutos durante a temporada 2009-10, Mantorras decidiu dar por terminada sua carreira no Futebol, declarando que "era hora de parar de lutar contra o sofrimento". Pedro protocolou pedido de aposentadoria por invalidez, por conta da sua incapacidade física permanente.

Em julho de 2012 recebeu uma grande deferência do seu clube, atuando em partida de despedida em um Estádio da Luz completamente lotado e ovacionando o ídolo angolano. Craques consagradíssimos, como Ronaldo, Figo, Paulo Futre, Edgar Davids e Fabio Cannavaro atuaram nesta partida, que teve fins beneficentes e arrecadou uma ótima quantia para instituições de caridade. Pedro, relembrando sua época majestosa no Benfica, marcou um dos gols da vitória de seu time.

Em sua carreira internacional, vestiu por 29 vezes a camisa da Seleção de Angola, marcando 4 gols e fazendo parte da equipe que disputou a Copa do Mundo de 2006. Vale ressaltar que Angola foi a primeira seleção africana de língua portuguesa a disputar uma edição da Copa do Mundo. Mantorras jogaria duas partidas, ambas saindo do banco de reservas, não evitando a eliminação na primeira fase de seu país.

Ao todo, atuou 127 vezes pelo Benfica, marcando 31 vezes. Conquistou a Copa de Portugal na temporada 2003-04, o Campeonato Português nas temporadas 2004-05 e 2009-10, a Supercopa de Portugal em 2005, e a Copa da Liga Portuguesa em 2009-10.

Um atacante de força física, técnica e categoria, Mantorras despertava a alegria dentro dos estádios. Jogador efervescente, capaz de lances plásticos e de golaços inesperados, encantou o mundo no início dos anos 2000, quando era considerado uma das maiores promessas do Futebol.

O atual presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, na época da aposentadoria do atacante angolano, declarou: "Pedro é um exemplo de entrega, de sacrifício, de superação. É um exemplo de otimismo e persistência. Alguém que nunca deixou de lutar, que sempre superou as dificuldades que passou. (...) Mantorras nunca deixará o Benfica, pois faz parte da casa, da nossa história".

Um jovem corajoso, que saiu da miséria extrema de seu país para prosperar no Futebol português, entrando na história do Benfica. Nem mesmo as repetidas e insistentes lesões o deixaram de acreditar que poderia continuar jogando, e seu caráter e amor pelo clube o marcaram para sempre na história das Águias.

Provavelmente, se Mantorras não tivesse sofrido tantas lesões durante sua carreira, ou quem sabe se tivesse recebido um tratamento mais adequado, seria uma das referências do Futebol mundial. Fica a lembrança dos seus lances e da sua dedicação pelo Benfica.