Inauguramos o blog homenageando o Mestre do Catenaccio.
Helenio Herrera nasceu em Abril de 1910, não se sabe exatamente o dia, crê-se que no dia 10. No entanto, nos anos cinquenta, ele alterou seu ano de nascimento para 1916, talvez para parecer mais jovem. É originário de Buenos Aires, na Argentina, filho de pais espanhóis. Com quatro anos de idade, mudou-se para a cidade de Casablanca, no Marrocos, na época, colônia da França, onde ele adotou cidadania francesa.
Como jogador, um defensor, teve uma carreira razoável, atuando em clubes como o RC Casablanca, FCO Charleville (onde foi convocado para a Seleção da França duas vezes, entretanto, não atuou) e atingindo o seu ápice na carreira no Red Star (não confundir com o Crvena Zvezda da antiga Iugoslávia). Terminou sua carreira no Puteaux, em 1945, onde já começara a sua carreira de treinador.
Nascia aí o primeiro treinador "Superstar" da história do futebol. Antes de Helenio Herrera, os treinadores nada mais eram do que meros coadjuvantes do cenário futebolístico, estando os holofotes apenas nos jogadores, estes sim, as verdadeiras estrelas. Foi o primeiro treinador a receber créditos pelas vitórias, ao contrário dos seus contemporâneos colegas, que passavam todas as láureas aos atletas.
H. H. (um dos seus singelos apelidos), passou a ganhar notoriedade quando mudou-se para a Espanha, tendo treinado em seis anos o Real Valladolid, Atlético de Madrid, onde venceu dois Campeonatos Espanhóis, em 1950 e 1951, Málaga, Deportivo La Coruña e Sevilla. Após, treinou por dois anos o clube português Belenenses, antes de retornar à Espanha, para, aí sim, treinar o gigante Barcelona.
No Barcelona, foi campeão várias vezes, utilizando de um esquema tático que, apesar de parecer contradizer ao primeiro parágrafo, aberto e ofensivíssimo, sem muita preocupação com a parte defensiva. Conquistou por duas vezes o Campeonato Espanhol, em 1959 e 1960, uma Copa del Generalisimo (atual Copa Del Rey), em 1959, e principalmente, duas vezes a Inter-Cities Fairs Cup, hoje Copa da UEFA, em 1959 e 1960. Infelizmente, teve vários problemas com o seu grupo de jogadores, principalmente com o grande jogador húngaro-espanhol László Kubala, deixando o clube catalão no mesmo ano de 1960.
Pois é, mas há males que vêm para bem. Neste caso, o grande momento do mestre estaria por vir.
Logo após sua saída do Barcelona, migrou para a Itália, assinando contrato com a Internazionale. A partir daí, a sua lenda se criou. Neste período, de 1960 a 1968, treinou o maior time da história da Inter, a chamada La Grande Inter, time de vigor físico, disciplina tática e pragmatismo absurdos. Pelas mãos de Herrera, passaram grandes lendas do futebol italiano e internacional, entre eles o craques espanhóis Luis Suárez e Joaquín Peiró, o grande jogador brasileiro Jair da Costa, os internacionais defensores Tarcisio Burgnich e Giacinto Facchetti, o meia Mario Corso, e um dos mais técnicos jogadores italianos de todos os tempos, Sandro Mazzola. Um timaço!
Com estes e outros craques, foi multi-campeão, conquistando diversos títulos nacionais e internacionais. Em destaque três Campeonatos Italianos, em 1963, 1965 e 1966, duas Copa dos Campeões Europeus, em 1964 e 1965, e duas Copas Intercontinentais, nos mesmos anos.
Percebendo a relativa pouca eficácia que um esquema ofensivo o tinha trazido, Herrera criou o esquema tático mais efetivo e pragmático da Europa na época, aquele mesmo que dá nome ao blog, o Catenaccio, cuja tradução aproximada seria “muro alto”.
O seu surgimento, deriva do Verrou (cadeado, em francês), tática utilizada pela Seleção Suíça nas décadas de 40 e 50 e criada pelo treinador austríaco Karl Rappan, extremamente defensiva e cautelosa, baseando-se em um 5-3-2. Helenio Herrera a modificou, aumentando sua flexibilidade para gerar contra-ataques rápidos e letais. Pronto, estava criado o Catenaccio.
Sua principal alteração com relação ao Verrou foi a utilização de seus laterais, o mais famoso, o grande Giacinto Facchetti, como alas, sendo auxiliados na cobertura pelo líbero, função aperfeiçoada pelo treinador. Esta disposição facilitava e muito a constituição dos contra-ataques que caracterizavam a Grande Inter.
Herrera foi o pioneiro no uso de motivação psicológica no futebol, sendo célebre por frases como: “Aquele que não dá tudo de si, não está dando nada” e “Com dez jogadores, nosso time joga melhor”. Criou o slogan “Classe + Preparação + Inteligência + Atleticismo = Campeonatos”, colocando placas em volta do campo de treinamento e fazendo os jogadores cantarem o mesmo durante as sessões de treinamento!
Além disso, foi um dos primeiros treinadores a usar dos chamados jogos psicológicos para abalar os seus adversários, fazendo previsões sobre os resultados dos jogos, e frequentemente acertando! Por esse motivo e por sua visão tática, foi apelidado pela imprensa italiana de "Il Mago”, o mago.
Foi também o criador de vários regimes muito utilizados hoje no futebol, como por exemplo “Il Ritiro”, a nossa conhecida Concentração atual. Nele, os jogadores se recolhiam para um hotel no interior na quinta-feira, para se prepararem para um jogo no domingo! Além disso, proibia os seus jogadores de beberem ou fumarem, além de controlar suas dietas.
Ainda, foi um dos primeiros treinadores a perceber a importância da torcida no estádio, pedindo o apoio do seu “Décimo-segundo homem”, incentivando a torcida a levar bandeiras e faixas. Isso, indiretamente, criou os Ultras, movimentos de torcedores atuantes até hoje.
Saindo da Inter, passou a ser treinador da Roma, onde se tornou o treinador mais bem pago no mundo, recebendo aproximadamente 150 mil euros por ano, uma verdadeira fortuna na época! Entretanto, não teve tanto sucesso nos Giallorossi, conquistando apenas uma Coppa Italia em 1969.
Foi demitido em 1970, voltando a treinar a Inter em 1973. Infelizmente, sofreu um ataque cardíaco, abandonando a carreira de treinador. Voltou brevemente à carreira no final da década de 70, comandando o Rimini Calcio e encerrando a carreira definitivamente o Barcelona em 1980 e 1981. Viveu em Veneza durante sua aposentadoria, até a sua morte, em 10 de novembro de 1997.
Apesar da sua morte, seu legado permanece imortal. Além dos seus vários títulos, foi o primeiro técnico a comandar três seleções nacionais diferentes: de 1946 a 1948, a Seleção Francesa, de 1959 a 1962, a Seleção Espanhola (concomitantemente com seu comando da Inter) e de 1966 a 1968, a Seleção Italiana, conjuntamente com Ferruccio Valcareggi.
Muitos discutem seus métodos e sua personalidade forte, e talvez um tanto quanto mal-educada. Foi um personagem muito polêmico durante seus anos de técnico. Mas nada irá apagar o seu brilhantismo técnico e alma de campeão. Foi um homem à frente da sua época, e certamente, inúmeros treinadores do passado, do presente e do futuro devem muito à Helenio Herrera, um dos homens que transformou o futebol mundial.
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