segunda-feira, 6 de maio de 2013

Craques que Não Assistimos Jogar: Giuseppe Meazza

Às vezes, falar de um grande craque pode ser muito fácil. Porém, em algumas oportunidades, a maioria das coisas que se fala de uma pessoa desse tipo pode ser muito pouco perto de sua verdadeira relevância.

O Craque que Não Assistimos Jogar do post de hoje foi o maior futebolista de sua geração. Entretanto, não teve a exposição que lhe era devida, por surgir em uma época negra do esporte e do mundo em si. Jogou grande parte de sua carreira em meio à II Guerra Mundial.

Falamos hoje de Il Balilla, Giuseppe Meazza.

Peppino, como era conhecido pela família, nasceu em 23 de agosto de 1910, em Milão, Itália, cresceu sem o pai, morto em uma batalha da I Guerra Mundial. Sua mãe trabalhava em uma feira, e o jovem seguidamente a ajudava no trabalho. Mas desde muito jovem, seu maior passatempo era o Futebol, jogando bola nas ruas de Milão, com uma bola de pano.

Aos doze anos de idade, com o consentimento da mãe, passou a praticar Futebol seriamente, jogando pelo Gloria F.C., um pequeno clube local, onde ganhou as primeiras chuteiras de sua vida como presente de um torcedor.

Meazza, na época, torcedor do Milan, tentou a sorte no clube Rossonero, mas foi rejeitado pelo porte físico franzino. A Inter de Milão, que nada tinha a ver com isso, o contratou depois de um olheiro o encontrar na rua fazendo embaixadinhas com uma bola de pano.

Passou a ser alimentado com bifes de carne pelos treinadores, para ganhar corpo. Inexplicavelmente, passou a ser usado na defesa quando chegou às categorias de base do clube, mas o erro foi corrigido brevemente.

Aos 17 anos de idade, foi realocado para a equipe principal. A transferência do jovem Meazza levou o seu companheiro Leopoldo Conti, bem mais velho e experiente, a cunhar uma célebre frase: "Agora pegamos jogadores até do jardim de infância!".

Giuseppe estreou em uma vitória de 6 a 2 contra a Milanese Unione Sportiva, marcando dois gols e deixando seus companheiros boquiabertos com sua impressionante habilidade e categoria, incluindo Conti. Começava nesta partida uma carreira fantástica.

Na sua primeira temporada como profissional, 1929-30, marcou 38 gols em 29 partidas, até hoje recorde absoluto de tentos marcados por um estreante no Campeonato Italiano. Nesta mesma temporada, ajudou a Internazionale - na época, por ordem do ditador Benito Mussolini, chamada de Ambrosiana, por ser um nome mais adequado ao Fascismo reinante na época - a conquistar seu primeiro título italiano em 10 anos.

Em 1933, Meazza fez uma curiosa aposta com o goleiro e capitão da Seleção Italiana e da Juventus, Giampiero Combi. O goleiro bianconero declarava que nenhum jogador, nem mesmo Meazza, poderia o driblar para marcar um gol. A aposta se tornou ainda maior, quando Meazza marcou um gol de bicicleta em Combi em treinamento da Azzurra. Combi o desafiou a fazer o mesmo em uma partida oficial. Meazza, de pronto, aceitou o desafio.

No dia 25 de maio de 1933, na Arena Civica de Turim, Ambrosiana e Juventus jogaram partida pelo Campeonato Italiano. Giuseppe marcou dois gols: o primeiro, em uma bicicleta fabulosa, idêntica àquela que havia batido Combi; o segundo, depois de uma jogada espetacular, onde driblou uma série de defensores bianconeri, chegando à frente de Combi, driblando-o e marcando um lindo gol. Giampiero, prontamente, ergueu-se e apertou a mão do jovem milanês.

Meazza era um homem de comportamento bastante questionável. Um apaixonado por cigarro, champanha e mulheres, quase arranjou problemas com os diretores da Ambrosiana por diversas vezes. Por sorte, morava muito perto do estádio, tendo chegado várias vezes para as partidas apenas alguns minutos antes do apito inicial. Um craque, quase sempre compensava seus vícios com muitos gols e atuações esplendorosas.

No ano de 1934, atingiria sua primeira grande glória, fazendo parte do esquadrão italiano que disputou a Copa do Mundo em seu próprio país.

Giuseppe seria uma das peças fundamentais da Azzurra para a primeira conquista do Mundial, jogando em todas as partidas, marcando dois gols e várias assistências. Foi particularmente importante na semifinal, contra a Áustria, considerada a melhor seleção da época, bem como na final, contra a Tchecoslováquia, onde jogou lesionado e ajudou a Itália a vencer na prorrogação, depois de um jogo tortuoso.

Em 1938, novamente em uma Copa do Mundo, desta vez disputada na França, Meazza brilharia. Capitaneando a Squadra Azzurra, jogou em todas as partidas, marcando um gol - de pênalti, contra o Brasil, segurando os calções rasgados por um defensor adversário - e atuando primorosamente em todos os jogos.

Antes da partida final do torneio, contra a surpreendente Hungria, recebeu um telegrama do ditador Benito Mussolini, com o seguinte e incisivo recado: "Vençam ou morram!". Diante da condição dada por Il Duce, Meazza e seus companheiros não titubearam, vencendo a partida por 4 a 2 e conquistando pela segunda vez o laurel de campeões do mundo. Peppino, como capitão, ergueu a taça Jules Rimet.

Ainda pela Ambrosiana, conquistou os Campeonatos Italianos das temporadas 1937-38 e 1939-40, além da Coppa Italia de 1939, a primeira da história do clube. Estes seriam seus últimos títulos como jogador de Futebol.

Após uma lesão que o tirara de boa parte da temporada 1939-40, se transferiu para o Milan em novembro de 1940. Se tornou talvez o jogador mais importante a fazer a troca imediata entre os dois clubes rivais do Derby della Madonnina.

Em fevereiro de 1941, fez seu primeiro derby pelos Rossoneri. Apesar de ter chorado copiosamente nos vestiários antes do início da partida, tamanho o seu amor pelo clube anterior, jogou admiravelmente, e fez o gol de empate da partida, que terminou em 2 a 2.

Jogou pelo Milan até o ano de 1942, quando se transferiu para a Juventus. Em Turim, estava acima do peso, sem a velocidade e a agilidade que o caracterizaram durante sua carreira. Apesar disso, marcou 10 gols atuando como centroavante.

Passaria, já no final de sua carreira, pelo Varese e Atalanta, voltando em 1946 para a Internazionale - agora com seu nome original - para ser treinador-jogador. Jogaria por um ano, ajudando a Inter a evitar o rebaixamento para a Segunda Divisão, encerrando então sua carreira.

Foi treinador da Internazionale, do Atalanta, do Pro Patria, da Seleção Italiana e do Beşiktaş, sendo o primeiro treinador italiano a comandar um clube estrangeiro. Enquanto treinador das categorias de base da Inter, descobriu outra lenda do clube, o jovem Sandro Mazzola.

Faleceu em 21 de agosto de 1979, com quase 69 anos completos de idade, na cidade de Rapallo, na Itália.

Meazza era um verdadeiro monstro sagrado do Futebol. Em meio à uma época muito violenta e de força nos gramados, Peppino era um dos poucos lampejos de categoria e leveza no continente europeu.

Um jogador de habilidade incomparável, possuía grande elegância e categoria para jogar. Driblava seus adversários com facilidade estonteante, possuía grandiosa visão de jogo, chutava com maestria e era um grande cabeceador - um grande feito, pois media apenas 1,69 m.

Tratava-se de um meio-campista com dom de atacar, era um grande distribuidor de jogo, comandando as operações dos ataques de todas as suas equipes, com fluidez e eficácia. Chegava, às vezes, a humilhar seus adversários com suas fintas inacreditáveis.

Sua marca registrada eram os gols em que atravessava o campo de jogo a dribles, batendo os defensores um a um, até chegar sozinho ao goleiro. Em frente ao guarda-metas, fingia um chute, para driblá-lo com facilidade e marcar tranquilamente. Até hoje, gols feitos de forma similar são chamados de "Gol alla Meazza", italiano para Gol à la Meazza.

Ambidestro, era um excelente passador da bola, além de ser um grande cobrador de pênaltis. Enganava os goleiros com sua astúcia, fingindo chutar em um canto para mandar a bola para as redes em outro. Instituiu, magistralmente, o estilo chamado pela imprensa de "Fasso-tutto-mi", um neologismo italiano para um jogador que fazia tudo por si.

Foi também um pioneiro nos patrocínios e na exploração de sua imagem, sendo o primeiro jogador italiano a receber dinheiro de empresas para representar suas marcas, e se tornou o primeiro jogador da Bota a ser conhecido internacionalmente.

Sua vida não era livre de controvérsias, todavia. Um apaixonado por carros, mulheres e bebida, não gostava de treinar nem de saber de tática, além de ser um fumante inveterado. Era, entretanto, o único jogador da Seleção Italiana que poderia praticar tal vício, tamanha a sua importância e habilidade.

Também, foi um dos primeiros jogadores a conquistar dois títulos de Copa do Mundo, juntamente com Giovanni Ferrari, Guido Masetti e Eraldo Monzeglio. São, até hoje, os únicos europeus a atingirem este feito.

Foi artilheiro do Campeonato Italiano em três oportunidades, bem como da Copa da Europa Central pelo mesmo número de vezes, e foi considerado membro do Hall da Fama do Futebol Italiano em 2011. Foi recordista de gols pela Azzurra por muito tempo, até ser batido por Gigi Riva, outro centroavante italiano legendário. Marcou, ao todo, pela Inter, 284 vezes, sendo até hoje o maior artilheiro do clube.

Foi homenageado, mais do que justamente, dando o nome ao tradicional estádio localizado no bairro San Siro, em Milão - hoje chamado de Stadio Giuseppe Meazza.

Jamais poderei escrever o suficiente para caracterizar a grandeza do maior craque da história da Itália. Além de ter sido um jogador que quebrou a barreira da força física e da violência, marcou época pela categoria e pela graça às quais presenteava todos seus espectadores à cada partida.

Apesar das poucas imagens que temos deste monstro sagrado do esporte, temos total consciência da sua enorme contribuição. O pequeno galanteador e craque deixou sua marca na história para sempre, com toda sua personalidade e técnica inigualáveis.

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