quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Grandes Jogos: Porto x Peñarol - 1987

O jogo do post de hoje foi certamente muito marcante. Mas, ao contrário do que o leitor possa pensar, não foi um jogo de qualidade técnica, jogadas espetaculares, muitos gols... Foi marcante, aí sim, pelas condições em que foi disputado, e pela superação dos jogadores, guerreiros que se digladiaram em condições inóspitas.

Em 13 de dezembro de 1987, foi realizada a oitava edição da Copa Toyota Intercontinental, também conhecida como Mundial de Clubes. Disputariam-na o Porto, campeão da Europa, e o Peñarol, campeão da América do Sul.

O Porto disputava a sua primeira Copa Intercontinental, depois de vencer pela primeira vez a Copa dos Campeões Europeus, o Peñarol já era quatro vezes campeão da Libertadores da América, vencendo dois títulos do Mundial de Clubes e um título da Copa Intercontinental, em 1982.


Campanhas:

O Futebol Clube do Porto foi o vencedor da Copa dos Campeões Europeus de 1987, a primeira da sua história. Começaram no torneio enfrentando o Rabat Ajax, de Malta, batendo-os no resultado agregado por 10 a 0. Nas oitavas-de-final, parada dura, contra o Vítkovice, da Tchecoslováquia. O Porto perdeu fora de casa por 1 a 0, mas bateu os tchecoslovacos na volta por 3 a 0.

Nas quartas, mais um confronto difícil, desta vez contra o Brøndby. Vitória de um a zero, em casa, e empate em um a um na Dinamarca. Para as semi-finais, confronto contra o forte Dinamo de Kiev, da extinta União Soviética. Surpreendentemente, o Porto venceu as duas partidas por 2 a 1.


Na final, um jogo dificílimo, contra um forte adversário, o Bayern. Depois de estarem perdendo por boa parte do jogo, surgiu a estrela do melhor jogador do Porto, o argelino Rabah Madjer, marcando um golaço, de calcanhar, ousado, matreiro, empatando a partida. O brasileiro Juary marcaria mais um gol dois minutos depois, virando a partida e dando ao Porto o seu primeiro título de Campeão da Europa. Se destacaram no torneio os atacantes Fernando Gomes, capitão e artilheiro do time, o jovem craque Paulo Futre, vendido após o torneio para o Atlético de Madrid, Madjer, Juary e o zagueiro brasileiro Celso, que marcou vários gols de falta.

Já o Peñarol iniciou a Libertadores em um grupo que tinha Alianza Lima e San Agustín, do Peru, e o Progreso, do Uruguai. Numa campanha invicta, obtiveram quatro vitórias e dois empates. Na segunda fase de grupos, um triangular contra River Plate e Independiente. Os Carboneros obtiveram duas vitórias, um empate e uma derrota, passando para a Final.

Na Final da Libertadores, enfrentamento contra o América de Cali. Na primeira partida, derrota em Cali por 2 a 0. No jogo da volta, vitória de 2 a 1 em Montevideo. Por conta das regras da época, que não consideravam o saldo de gols, um terceiro jogo de desempate teria que ser disputado. Em Santiago, na terceira partida, a partida se manteve empatada no tempo normal, indo para a prorrogação.


Um lance sensacional marcou a história deste time. Até os quinze minutos do segundo tempo, a prorrogação se manteve empatada em zero a zero. Persistindo o empate, o América de Cali seria o campeão da Libertadores. Entretanto, aos 15 minutos do segundo tempo da prorrogação, Diego Aguirre, o matador e melhor jogador da equipe, recebeu a bola na entrada da área e mandou um foguete de pé esquerdo para o fundo das redes. Vitória extraordinária e o quinto título da Libertadores da América para o Peñarol!


O Jogo:

Como disse no início do post, as condições de jogo eram completamente inóspitas. Uma nevasca caía na hora do jogo, final de tarde na cidade de Tóquio. Mesmo assim, de maneira incrível, cerca de 68 mil pessoas foram ao Estádio Nacional de Tóquio para assistir a partida, o que demonstra o amor dos japoneses pelo Futebol.

O Porto tinha um time que dispunha de mais qualidade técnica, com um bom toque de bola e jogadores habilidosos no meio-campo e no ataque. O Peñarol era o contraponto, e representante do Futebol aguerrido e de força física característico dos platinos. O Porto já não contava mais com o craque Paulo Futre, com Juary e com Celso, lesionados. O Peñarol vinha com força total.

Em tese, tudo indicava que o jogo estava melhor para os uruguaios.


O Porto estava escalado com: Mlynarczyk; João Pinto, Geraldão, Lima Pereira, Augusto Inácio; António André, Jaime Magalhães, Rui Barros (Quim/61') e António Sousa; Madjer e Fernando Gomes. Os Dragões eram comandados pelo experiente treinador iugoslavo Tomislav Ivić.

O Peñarol vinha armado com: Pereira; Rotti, Trasante, Herrera (Gonçalvez/95'), Dominguez; Perdomo, da Silva, Viera; Vidal, Aguirre e Cabrera (Matosas/45'). O técnico era o jovem Óscar Tabárez.

O jogo, em resumo, foi uma disputa de chutões, de ambos os lados. Não havia possibilidade de se elaborar qualquer tipo de troca de passes, ou alguma jogada mais técnica, por conta das condições climáticas, que acabaram por desmanchar o gramado imaculado do Estádio Nacional de Tóquio.

Houve poucas chances, e os gols sairiam das únicas jogadas que os times conseguiriam fazer no jogo todo. A primeira chance foi uma falta cobrada por da Silva, um chute forte da intermediária, para uma defesa de dois tempos do ótimo goleiro polonês Józef Mlynarczyk. A chance seguinte foi do Porto, depois de um lateral cobrado por Inácio, André chutou, mandando para a rede do lado de fora.


O primeiro gol saiu em um belo lance, mesmo na neve. Aos 41 minutos de jogo, Jaime Magalhães lançou a bola pela ponta direita para Rabah Madjer, que deu um corte seco no defensor, chutando de pé esquerdo para a goleira. A bola passou mansamente por todos, sendo mandada para as redes pelo capitão Fernando Gomes, dividindo com o zagueiro e marcando 1 a 0 no placar. Placar definido? Nunca!

O Peñarol tentava bravamente avançar, mas não conseguia. Até que aos 35 minutos do segundo tempo, os Carboneros conseguiram um escanteio. Da Silva mandou um chutão para dentro da área, Matosas cabeceou para a pequena área, encontrando o canhoto Viera, que, entre três zagueiros, matou a bola e chutou de virada para o fundo das redes. Era um empate milagroso. O placar marcava 1 a 1.

Madjer ainda perderia um gol claro ao fim do tempo regulamentar, depois de ser lançado por Fernando Gomes pela esquerda, chegando à frente do goleiro Pereira, mas chutando de pé esquerdo para fora. A prorrogação, e com ela, mais um sacrifício, estava por vir. Mas Madjer se redimiria, e muito bem.

Depois de perder uma chance em frente a Pereira no primeiro tempo da prorrogação, se tornaria o herói do jogo. Após uma série de divididas duras e chutões desgovernados, Augusto Inácio se desvencilharia de dois atacantes do Peñarol, lançando Madjer pelo lado esquerdo do campo. O zagueiro Trasante chegou primeiro na bola, mas Madjer espertamente roubou a pelota, surpreendendo Pereira com um chute por cobertura de muito longe, que entrou devagarzinho no canto esquerdo da goleira. Um gol espetacular, a coroação de um dos maiores jogadores da história do Porto. 2 a 1, e aí sim, placar definido.

O Peñarol ainda tentaria, desesperadamente, marcar um gol salvador, sem sucesso. Mlynarczyk ainda faria uma boa defesa numa bola alçada na área, mas nada muito perigoso.


Ganhou o melhor time. Mas também ganhou o time que tinha um cracaço. O maior jogador da história da África, Rabah Madjer, que, justamente, foi eleito o melhor em campo.

O Porto ainda venceria a Supercopa da Europa em cima do Ajax na mesma temporada, alcançando a Tríplice Coroa dos torneios europeus de clubes. Desde então, o Porto ganharia duas Copas da UEFA, nas temporadas 2002-03 e 2010-11 (já como UEFA Europa League), e mais uma vez a UEFA Champions League e um Mundial de Clubes, na temporada 2003-04.

O Peñarol não teria a mesma sorte. Desde a Libertadores de 1987, os Carboneros não ganharam mais nenhum torneio internacional, sofrendo crises financeiras e técnicas.

Abaixo, o vídeo completo da partida. Bom proveito!

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