sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Craques que Nasceram no País Errado: Georgi Kinkladze

O terceiro Craque que nasceu no país errado é um herói no Manchester City, na era em que o clube não passava de mero coadjuvante na Primeira Divisão. Considerado um dos grandes gênios da história do Futebol do seu país, foi injustiçado pela falta de visibilidade internacional da sua Seleção: Georgi Kinkladze.

Georgi nasceu no dia 6 de julho de 1973, em Tbilisi, na União Soviética, atualmente a Geórgia. Filho de um engenheiro e de uma professora, seu pai depositava grande expectativa no pequeno Georgi em se tornar um craque do Futebol. Para tanto, fazia vários treinos com ele, incluindo andar de joelhos pela casa para tornar as pernas do garoto mais fortes. Sua mãe desaprovava essas atitudes, levando o garoto a aulas do balé tradicional georgiano, o que provavelmente influenciou no estilo de jogo dele.

Começou a jogar nas categorias de base do Dinamo Tbilisi, clube no qual chegou apenas aos times reservas, não logrando chegar na equipe principal. Foi colega de outro grande do Futebol da Géorgia, Shota Arveladze. Um amigo de sua família arranjou um teste para o jovem Georgi no Mretebi Tbilisi, um clube menor.

No Mretebi, estreou na equipe principal com apenas 16 anos de idade, onde mostrou sua habilidade e velocidade. Após auxiliar o clube a uma subida de divisão, foi contratado pelo Dinamo Tbilisi, clube que defendeu quando mais jovem.

Na sua primeira temporada no Dinamo, o clube mais forte da Geórgia, fez uma dobradinha, vencendo a Liga e a Copa da Geórgia. Entretanto, com a Guerra Civil no país, o clube resolveu mandar seus atletas para locais mais seguros. Logo, Kinkladze foi emprestado ao Saarbrücken, da Alemanha. Infelizmente, não se adaptou bem no país, jogando poucas partidas.

Voltou à Geórgia, que ainda estava em meio ao confronto bélico. Foi oferecido ao Atlético Madrid, que o recebeu para um teste, mas não o contratou. Também fez um teste no Boca Juniors, onde não foi contratado pois era muito parecido com outros jogadores que o treinador na época tinha no plantel.

A sua descoberta aconteceu numa partida do selecionado internacional da Geórgia, contra a Moldávia. Após assistirem a sua performance, clubes da Itália se interessaram pelo passe do jovem georgiano. A imprensa da Itália o chamou de "Rivera do Mar Negro", uma alusão ao craque italiano Gianni Rivera.

Finalmente, após uma atuação fantástica em uma partida contra o País de Gales, vitória de 5 a 0, marcou seu primeiro gol internacional, e estava apresentado ao Futebol europeu. Na partida seguinte, jogada em Cardiff, Kinkladze marcou o único gol da partida, de cobertura, sobre o experiente Neville Southall. Nesta oportunidade, diversos olheiros estavam presentes assistindo, certamente se maravilhando com a técnica do jovem georgiano.

Na sua última temporada pelo Dinamo Tbilisi, 1994-95, o clube novamente fez a dobradinha, vencendo a Copa e a Liga da Geórgia. Pelo clube, marcaria 42 gols em 65 partidas.

Em 15 de julho de 1995, Georgi Kinkladze foi contratado pelo Manchester City, que estava em uma série crise técnica. Sentindo saudades de casa, Kinkladze teve que pedir a mudança de sua mãe para Manchester, para cozinhar para ele.

Não demorou muito para Georgi se tornar a grande estrela da equipe azul celeste. Fez várias grandes atuações, sendo escolhido pelos torcedores como o jogador da temporada em 1995-96, a sua inicial. Entretanto, suas exibições não salvaram o clube do rebaixamento. Com isso, seu nome estava sendo ligado à transferências para grandes clubes europeus, como Barcelona, Liverpool, Inter e Celtic.

O georgiano, entretanto, resolveu ficar na Inglaterra, mostrando sua lealdade ao clube que confiou em seu talento. A temporada 1996-97 não foi menos turbulenta para o Manchester City, que contou com cinco treinadores diferentes. A torcida, ao final da temporada, novamente por conta das grandes exibições de Kinkladze, implorava ao clube para que não o negociasse. Foi votado de novo o jogador da temporada.

Kinkladze se tornaria a referência técnica do time. Era o cobrador oficial de faltas e de pênaltis, marcando vários gols de bola parada. Tornou-se herói em um time fraco e em crise.

Entretanto, na temporada 1997-98, Joe Royle assumiu o comando técnico do City. Conhecido por jogar com muitos volantes, não gostava de Kinkladze, querendo vendê-lo desde o primeiro momento. O georgiano sofreu seguidas lesões na temporada, e era relegado a mero coadjuvante na equipe. Royle, naturalmente, conseguiu rebaixar o Manchester City para a Terceira Divisão inglesa, e Kinkladze tinha terminado sua carreira em Manchester. Ao todo, marcou 20 gols em 119 partidas, sendo considerado o grande craque de uma geração perdida.

Foi transferido ao Ajax na temporada seguinte, 1998-99, onde encontraria o georgiano e ex-colega de equipe Shota Arveladze, dividindo a casa com o mesmo. Entretanto, problemas com o técnico Jan Wouters fizeram com que Georgi fosse um mero reserva, jogando em posições não familiares, como a ponta-esquerda, não rendendo o que ele poderia.

Georgi foi emprestado ao Derby County, da Inglaterra, treinados por Jim Smith. Jogou 14 partidas por empréstimo, voltando a apresentar seu bom Futebol. Logo depois, o seu empréstimo foi tornado definitivo. Kinkladze dividia a posição de armador com o craque italiano Stefano Eranio, alternando partidas como titular e reserva.

A sua primeira temporada definitiva como atleta do Derby foi marcada por muitas lesões e poucos momentos de brilhantismo. Fez uma cirurgia para correção de uma hérnia, perdendo o início da temporada. Apesar de tudo, conseguiu ajudar o Derby a não cair para a Segunda Divisão.



A temporada 2001-02 foi mais turbulenta ainda para Kinkladze, que mais uma vez sofria com seguidas lesões, e também com a saída do treinador Jim Smith, com quem tinha uma ótima relação. O substituto de Smith, Colin Todd, não gostava de jogadores de técnica apurada, e simplesmente ignorou Kinkladze. O georgiano ficou, naturalmente, muito insatisfeito, brigando com o técnico.

No meio da temporada, Todd foi demitido, e substituído por John Gregory, que deu chances ao georgiano. Georgi passaria a jogar melhor, contribuindo mais efetivamente para o clube, e surpreendentemente sendo escolhido o melhor jogador da temporada. Mesmo assim, Kinkladze não evitou mais um descenso na sua carreira.

Sua passagem pelo clube se encerraria ao fim da temporada, e depois de testes mal-sucedidos no Portsmouth, Panathinaikos e Shinnik Yaroslavl, da Rússia, foi contratado pelo Anorthosis, do Chipre.

Lá seria treinado pelo compatriota e lenda do clube cipriota, Temuri Ketsbaia. No Chipre, Kinkladze voltaria à sua antiga forma, jogando muito bem, marcando gols e dando assistências frequentemente. Ajudou o clube a conquistar o Campeonato Cipriota, além de chegar a UEFA Champions League de 2005-06. Na fase qualificatória do torneio continental, ajudou o clube a bater o Dinamo Minsk, a eliminar surpreendentemente o Trabzonspor, da Turquia, e na derrota para o Rangers, na terceira fase classificatória.

Sua exibição contra o Rangers atraiu a atenção do treinador do Rubin Kazan, da Rússia, Gurban Berdiyew. Fechou sua contratação na véspera do segundo jogo contra o Rangers, causando desconforto com Ketsbaia.

Em Kazan, tornou-se o maior jogador georgiano a atuar na Rússia. Não desapontou Berdiyew, atuando como o armador principal do time, contribuindo, como de costume, com gols e assistências frequentes. Uma das suas assistências mais importantes aconteceu em uma vitória contra o Zenit, que decidiu uma vaga para a Copa da UEFA do ano seguinte. Seu contrato foi renovado por mais um ano, para a temporada 2006-07.

Esta temporada foi a sua última, tendo se lesionado no primeiro jogo oficial do Rubin Kazan. A lesão, que era recorrente, o atormentou durante a temporada inteira, sendo difícil para Kinkladze voltar à forma antiga, sendo limitado à poucos jogos no ano, o que o levou à aposentadoria.

Tornou-se empresário, e retornou ao Anorthosis em agosto de 2011, onde foi contratado como Diretor de Futebol. Em junho de 2012, deixou o cargo amigavelmente.

Por causa das suas seguidas lesões e falta de jogos, por brigas com os seus treinadores, Kinkladze atuou relativamente pouco por seu país: 57 aparições na Seleção da Geórgia, com nove gols.

Georgi Kinkladze era um meia-armador de muita habilidade, capaz de corridas em velocidade pelo campo, driblando seguidamente seus adversários. Um canhoto nato, cobrava faltas, escanteios e pênaltis com maestria. Especialmente no Manchester City, era capaz de gols e assistências espetaculares. Seu temperamento forte e suas lesões recorrentes na metade final da carreira o atrapalharam, bem como sua nacionalidade.

Foi eleito por três vezes o Jogador da Temporada em clubes ingleses, duas vezes pelo Manchester City - 1995-96 e 1996-97 - e uma pelo Derby County - 2002-03. Além disso, foi eleito por duas vezes seguidas como o maior jogador da Geórgia na temporada, em 1992-93 e 1995-96.

Tivesse Kinkladze nascido em um país mais forte no Futebol, e tivesse ele mais chances com seus treinadores rígidos e limitados, certamente seria uma estrela mais brilhante do que foi.



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