quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Grandes Jogos: Áustria x Alemanha Ocidental, 1978

No dia 21 de junho de 1978, Alemanha Ocidental e Áustria travariam uma batalha inesquecível na cidade de Córdoba, na Argentina. Pela segunda fase de grupos da Copa do Mundo de 1978, este seria o último jogo de ambas as equipes no torneio. Esta partida, até hoje, é chamada de "O Milagre de Córdoba".

Os alemães, os campeões do Mundo, defendendo seu título, eram treinados por Helmut Schön, e tinham uma equipe forte, voluntariosa, rápida nos contra-ataques e de muita qualidade técnica. Já despontava como grande estrela o jovem Karl Heinz Rummenigge, bem como o experiente Paul Breitner, o arqueiro Sepp Maier, o capitão e zagueiro Berti Vogts e os meio-campistas Rainer Bonhof e Bernd Hölzenbein.

A Áustria tinha um tinha bastante compacto e rápido, contando com jogadores habilidosos em todos os setores. Contavam, principalmente, com a efetividade do artilheiro e um dos maiores jogadores da história do país, Hans Krankl. Ainda, dependiam bastante do meia Herbert Prohaska, o lateral apoiador Robert Sara, e o bom goleiro Friedrich Koncilia.


Campanhas:

A Alemanha Ocidental entrou no Grupo 2 da primeira fase, enfrentando a forte seleção da Polônia, México e Tunísia.

Na primeira partida, um empate chocho e sem graça contra os poloneses, 0 a 0. No segundo jogo, contra a então fraquíssima seleção do México, um massacre, vitória de 6 a 0, com destaque para Rummenigge e o meia Heinz Flohe, ambos com dois gols marcados.

O terceiro jogo, mais uma vez sem graça, foi um empate surpreendente contra a Tunísia, 0 a 0. A Alemanha Ocidental se classificaria para a segunda fase apenas em segundo lugar, atrás dos poloneses, marcando 4 pontos em 3 partidas (na época, a vitória valia apenas 2 pontos).

Já a Áustria, ao contrário dos alemães, fez uma belíssima campanha na primeira fase, dividindo o Grupo 3 com o Brasil, Espanha e Suécia, um grupo relativamente forte.

Na primeira rodada, vitória surpreendente contra os espanhóis, 2 a 1, com gols do artilheiro Hans Krankl e do meia Walter Schachner. Na segunda rodada, nova vitória, desta vez contra a Suécia, 1 a 0, gol de pênalti de Krankl.

A última partida, com os austríacos já classificados, e a Seleção Brasileira lutando para conseguir uma classificação difícil, terminou em vitória para os brasileiros, 1 a 0, com um gol do até então reserva no torneio, o grande Roberto Dinamite.

Para a segunda fase, agora já no mesmo grupo, Alemanha Ocidental e Áustria disputariam a vaga na final contra as fortes seleções da Itália e da Holanda, a última disputaria a final da Copa contra os donos da casa, a Argentina.

Os alemães começaram empatando contra a Itália, mais uma vez de um jeito sem graça. O time parecia um tanto quanto burocrático no comando do já veteraníssimo Helmut Schön. A Áustria sofreria uma goleada devastadora contra os holandeses, 5 a 1.

No segundo jogo, novo empate para os alemães, desta vez contra a Holanda, 2 a 2. Ao menos, neste empate, a Alemanha Ocidental conseguiu marcar gols, fato inédito até então no campeonato. A Áustria sofreria nova derrota, um jogo apertado e disputadíssimo contra a Itália, 1 a 0, gol de Paolo Rossi.

O Jogo:

O Estádio Chateau Carreras, em Córdoba, receberia a partida final do Grupo B, com a Alemanha Ocidental buscando uma vitória por cinco gols de diferença, além de precisar de um empate entre Itália e Holanda, para assim, chegar à Final da Copa do Mundo.

A Áustria estava meramente cumprindo tabela, pois não havia chances matemáticas tanto de disputar o terceiro lugar quanto de chegar à Final.

Entretanto, a rivalidade entre os dois países aflorou na alma dos austríacos. Desde a Anschluss, a anexação da Áustria para o território alemão durante a Segunda Guerra Mundial, o sentimento de ódio contra os alemães era notório. Além disso, desde 1931 a Áustria não batia a Alemanha.


A Áustria vinha escalada com: Koncilia; Sara, Obermayer, Krieger, Strasser; Pezzey, Prohaska, Hickesberger, Schachner; Kreuz e Krankl. O técnico era Helmut Senekowitsch.

A Alemanha Ocidental estava escalada com: Maier; Vogts, Dietz, Reusmann, Kaltz; Bonhof, Beer, Hölzenbein; Abramczik, Dieter Muller e Rummenigge. O técnico, como dito anteriormente, era Helmut Schön.

O jogo começou com alta movimentação e objetividade por parte de ambas as equipes. Já nos minutos iniciais, a Alemanha Ocidental, em busca de larga vantagem de gols, já criava chances claras, basicamente com as jogadas do bom ponta-direita Abramczik.

Aos dezenove minutos de partida, Rummenigge fez uma bela tabela pelo lado direito com Abramczik, chegando em velocidade em frente de Koncilia, tocando com categoria para marcar o primeiro gol da Alemanha Ocidental. A impressão que se tinha é que seria um atropelamento alemão.

Mas felizmente para o Futebol, o que ocorreu foi uma volta por cima espetacular dos austríacos. Ao invés de se acanharem e desistirem da partida, o time da Áustria passou a atacar com muito mais volume do que antes. O atacante Kreuz teve boas chances de gol, e o lateral-direito Sara vinha apoiando muito pelo seu lado de campo, inclusive com um arremate perigoso de longe.


Terminado o primeiro tempo em 1 a 0, o segundo tempo da partida a transformaria em um dos jogos mais emocionantes da história das Copas do Mundo. Aos 14 minutos do segundo tempo, após um cruzamento do lado direito atravessar toda a área, o desafortunado Vogts esbarrou na bola, mandando para o fundo das redes. Gol contra, 1 a 1.

A Alemanha Ocidental se via em situação difícil, e a final parecia cada vez mais distante. O jogo era lá e cá, muitas chances perdidas para ambos os lados.

Para piorar ainda a situação, sete minutos mais tarde, o grandioso Hans Krankl decidiu atrapalhar mais ainda a trajetória alemã. Depois de jogada pela esquerda, o cruzamento de Krieger achou Krankl no lado oposto da área, dominando e mandando a bola de pé esquerdo para o ângulo de Maier, um golaço!

Mas os alemães não se entregariam tão fácil. Menos de dois minutos depois do gol sofrido, igualariam novamente o marcador. Bonhof cobrou falta pela direita, cruzando para a área, e Hölzenbein subiu mais alto que todos, cabeceando forte para o gol de Koncilia: 2 a 2.

O jogo continuava bastante disputado, às vezes um tanto quanto violento. A tensão tomou conta do gramado, várias agressões e faltas duras.

Para fechar o placar e selar a glória da Áustria, Hans Krankl, oportunista, matreiro, aos quase 43 minutos do segundo tempo, depois de uma virada de jogo de Oberacher, aproveitou a falha na interceptação do sólido Vogts, recebeu pelo lado esquerdo, driblou Reusmann e tocou por baixo de Maier: 3 a 2.

A Alemanha Ocidental ainda perderia uma chance claríssima de gol com Abramczik, aos 45 minutos de jogo. O ponta recebeu a bola em condição legal em frente a Koncilia, mas chutou cruzado de pé esquerdo para fora, muito perto da trave esquerda do gol. Minutos depois, o bom árbitro israelense Abraham Klein encerrou a partida.

O "Milagre de Córdoba" estava operado. Estava consolidada uma das maiores vitórias da história do Futebol da Áustria.

A vitória é celebrada muito até hoje. O jogo foi considerado um dos melhores da história de todas as Copas do Mundo. Mesmo sem conseguir a classificação, só o fato de os austríacos terem eliminado a Alemanha Ocidental, e, melhor ainda, vencerem de forma incrível, torna o jogo um fato histórico.

Um jogo maravilhoso, exemplo perfeito de como o Futebol era jogado para a frente, sem medo de atacar, efetivo e emocionante. Uma oportunidade magnífica de ver atuações ímpares de dois monstros da história do Futebol europeu: Hans Krankl e Karl Heinz Rummenigge.

Abaixo, o jogo completo. Bom proveito!


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