terça-feira, 14 de agosto de 2012

Grandes Treinadores: Bobby Robson

O treinador homenageado do post de hoje é um dos maiores personagens do Futebol europeu de todos os tempos. Uma pessoa de caráter e sabedoria acima de qualquer suspeita, capaz de cativar o mais rebelde grupo de jogadores e a mais impaciente torcida: Sir Bobby Robson.

Nascido em County Durham, na Inglaterra, filho de um mineiro de carvão, foi apresentado por seu pai ao Futebol quando muito jovem, ambos indo frequentemente ao St. James' Park, estádio do Newcastle United, onde Bobby se apaixonou pelo jogo, assistindo seus maiores ídolos, os atacantes Jackie Milburn e Len Shackleton, inspiração para sua carreira de jogador.

Como jogador, assim como seus ídolos, era um Inside Forward, hoje posição transformada no meia-atacante. Não conseguiu jogar no seu clube do coração, o Newcastle, tendo iniciado sua carreira no Fulham. Um prolífico marcador de gols, Robson se transferiria ao West Bromwich Albion, clube que o alavancou à Seleção Inglesa. Voltou ao Fulham por cinco temporadas, encerrando sua carreira no Vancouver Royals, do Canadá.

Foi peça importante da Seleção Inglesa em duas Copas do Mundo, em 1958 e 1962, sendo titular em ambas as equipes.

Iniciou a sua gloriosa carreira de treinador no Fulham, em 1968. Contratado para tentar salvar o time de Craven Cottage do rebaixamento, não logrando sucesso. Inusitadamente, Robson descobriu que havia sido demitido por uma manchete de um jornal local, antes mesmo de ser comunicado pelo seu clube.

Em 1969, ganhou a disputa pelo cargo vago no Ipswich Town. Lá, ganharia a sua fama de competente treinador. Depois de quatro temporadas inexpressivas em Ipswich, na temporada 1972-73 Robson levou o time à quarta colocação do Campeonato Inglês, além de vencer a Texaco Cup. Mas ele não pararia por aí.

Em 1978, conquistou a FA Cup, sobre o gigante Arsenal, que tinha jogadores consagrados como Malcolm Macdonald, Liam Brady, Pat Jennings e David O'Leary. Na temporada 1980-81, a sua maior conquista continental, a Copa da UEFA, pelo mesmo Ipswich Town, um resultado surpreendente para um clube de tal tamanho, batendo o AZ Alkmaar na final.

Robson foi tão vitorioso na época de Ipswich, que em 2002 foi erguida uma estátua em tamanho real em frente do estádio do clube, Portman Road.

Por conta das suas conquistas como treinador do Ipswich, foi-lhe oferecido o cargo de treinador da Seleção Inglesa, o que prontamente aceitou. Assumiu o comando logo após a eliminação da Inglaterra da Copa do Mundo de 1982, substituindo Ron Greenwood.

Classificou o selecionado inglês para a Copa do Mundo do México, em 1986. Fez um bom início de campanha, classificando os ingleses para as quartas-de-final, onde enfrentariam a Argentina de Maradona. Infelizmente, Robson foi derrotado pela "Mão de Deus" de Maradona. Perderam por 2 a 1, e Robson repudiou as alegações de atos divinos por parte de Maradona:

"Não foi a mão de Deus. Foi a mão de um patife. Deus não teve nada a ver com isso... Naquele dia, Maradona perdeu seu conceito comigo para sempre".


Na Euro de 1988, também não teve muita sorte. O grupo inglês foi eliminado na primeira fase, perdendo suas três partidas. Robson foi crucificado pela imprensa, e, após um empate num amistoso com a seleção da Arábia Saudita, foi execrado. Pediu sua demissão, que foi rejeitada pela FA.

Continuou para comandar a Inglaterra na Copa de 1990. Robson passou por dificuldades na primeira fase, liderando seu grupo com apenas 4 pontos conquistados. Entretanto, conquistou boas vitórias contra a Bélgica e Camarões no mata-mata, chegando na semi-final contra a Alemanha. Em um jogo disputadíssimo, nervoso, a Inglaterra foi derrotada na disputa de pênaltis, um evento que assombraria Robson pelo resto de sua vida. Conquistou um quarto lugar no torneio, melhor classificação inglesa em uma Copa do Mundo, depois da conquista de 1966.

Depois de 1990, Robson decidiu não renovar seu contrato com a FA, partindo então para uma jornada em terras estrangeiras. No mesmo ano, assumiu o PSV Eindhoven, um elenco talentoso porém instável. Frustrou-se com a falta de disciplina do craque Romário, apesar de admirar sua técnica. Apesar de toda a instabilidade no vestiário, Robson conquistou duas vezes o Campeonato Holandês, nas temporadas 1990-91 e 1991-92. Porém, como o PSV não vinha indo bem nas competições europeias, Robson foi demitido.

Na temporada 1992-93, partiu para Portugal, mais precisamente para o Sporting Lisboa. Lá foi auxiliado por um jovem José Mourinho, seu tradutor. Na primeira temporada, conseguiu levar o clube ao terceiro lugar do campeonato, apesar de o time estar precariamente dirigido por seu presidente, que contratava jogadores sem o consentimento de Robson, e agia de forma excêntrica. Excentricamente, o presidente demitiu Robson na temporada 1993-94, mesmo com o Sporting liderando o Campeonato Português, alegando que o time vinha mal nas competições continentais.


Rapidamente, o Porto, rivalíssimo do Sporting, contratou o inglês, juntamente com Mourinho, seu assistente. Na época, morava no mesmo condomínio que Robson o jovem André Villas-Boas, que trabalharia com o inglês como olheiro no Porto, e seria seu pupilo por vários anos. Robson assumiu o Porto com uma torcida desmotivada, com média de público de apenas dez mil pessoas por jogo.


Entretanto, Robson comandou uma reviravolta, batendo o Sporting na final da Copa de Portugal na mesma temporada, e conquistando duas vezes o Campeonato Português nas temporadas seguintes, 1994-95 e 1995-96. Na temporada de 1995-96, Bobby foi diagnosticado com um melanoma, perdendo dois meses de treino, mas conseguiu defender o título de campeão português.

Na temporada seguinte foi contratado pelo gigante Barcelona, porém de uma forma inusitada. O presidente do Barça, Joan Gaspart, havia ligado para Robson para tratar da transferência de Luís Figo. No meio da conversa, surgira a proposta de emprego para Bobby, junto com José Mourinho, novamente. Um dos seus grandes acertos foi a contratação do jovem fenômeno Ronaldo, figura importantíssima em todas as conquistas daquela temporada. Em uma entrevista, Ronaldo declarou: "Como treinador, sem dúvida alguma, Robson é um dos maiores do mundo".

Robson foi eleito o treinador europeu do ano na temporada 1996-97, conquistando com o Barcelona a Copa del Rey, a Supercopa da Espanha, e a Recopa da Europa (European Cup Winners' Cup). No ano seguinte, foi promovido a Diretor Executivo de Futebol do Clube, com Louis van Gaal assumindo a casamata. Ficou por um ano no cargo, voltando ao PSV para uma passagem rápida.

Em 1999, Bobby Robson retornou à sua terra natal, a Inglaterra, para assumir um cargo de Diretor Técnico da FA. Entretanto, com a demissão de Ruud Gullit do cargo de treinador do Newcastle, não hesitou em aceitar uma proposta dos Magpies. Finalmente, prestaria serviços ao seu clube do coração desde a infância.

Treinou o Newcastle United por seis temporadas, não conquistando nenhum título. Por outro lado, remontou um time despedaçado, mantendo o clube nas posições altas da tabela. Comandou jogadores como Alan Shearer, Laurent Robert, Craig Bellamy, Nolberto Solano, Jermaine Jenas, Kieron Dyer, Jonathan Woodgate e Shay Given, entre outros. Classificou o clube duas vezes consecutivas para a UEFA Champions League, além de alcançar as semi-finais da Copa da UEFA.

Aposentou-se da carreira de técnico no final da temporada 2003-04, assumindo ainda uma posição de Consultor de Futebol na Federação Irlandesa de Futebol em 2005, antes de se aposentar da carreira no Futebol definitivamente.

Faleceu em 31 de julho de 2009, por conta de um câncer no pulmão, depois de uma longa luta contra a doença, já recorrente a muitos anos de sua vida.

Bobby Robson foi um dos treinadores mais carismáticos que já pisaram em um campo de Futebol. Seu caráter, sua paixão pelo jogo e sua dedicação foram suas características mais marcantes. Era uma pessoa carinhosa e emotiva, como diria Michel Platini, um homem que amava o que fazia.

Um ávido conhecedor de Futebol, foi, como dito antes, mentor de dois gênios táticos da atualidade, José Mourinho, multi-campeão por vários times, como Porto, Internazionale e Real Madrid, e André Villas-Boas, uma das grandes promessas jovens de hoje.

Recebeu a honraria de Comandante da Ordem do Império Britânico ao fim da sua passagem pela Seleção Inglesa, em 1990, e em 2002, foi condecorado como Cavaleiro, tornando-se Sir Bobby Robson, por conta das suas grandes contribuições ao Futebol inglês.

Ainda, recebeu da UEFA em 2002 o Prêmio do Presidente, também em razão de seus serviços prestados ao Futebol europeu. Foi conduzido ao Hall da Fama do Futebol Inglês em 2003, e recebeu, novamente da UEFA, a Ordem Esmeralda do Mérito, em 2008, dada a aqueles indivíduos que dedicaram seus talentos para o bem do Futebol.

Gary Lineker declarou no dia da sua morte: "É um dia triste e uma grande perda. Ele era um homem maravilhoso e fará falta profundamente por todos no país. Nunca joguei para um treinador tão entusiástico como ele. Ele deu muito de si para o jogo". Sir Alex Ferguson também declarou: "É um grande amigo, uma pessoa maravilhosa e tremendo homem do Futebol".

Sir Bobby, merecidamente, é até hoje celebrado e lembrado pelo povo inglês, por causa da sua contribuição incansável e apaixonada para o Futebol do país. Sem qualquer dúvida, é e será para sempre reconhecido como um dos maiores treinadores de todos os tempos.

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