quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Grandes Times: Dinamáquina

O grande time homenageado de hoje surpreendeu o mundo nos anos 80 e início dos anos 90. Tratava-se de uma seleção de um país sem qualquer expressão no futebol mundial na época em que surgiu, e que acabou influenciando uma geração inteira de um país.

Tinha um apelido carinhoso, a Dinamite Dinamarquesa. Para nós, falantes da língua portuguesa, ficou uma mistura que pegou, Dinamarca com máquina: a Dinamáquina.

Tudo se iniciou nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1982. A Dinamarca, que jamais havia se qualificado para uma fase final da Copa do Mundo, marcou 8 pontos em 8 jogos disputados, incluindo uma vitória sobre a futura campeã, Itália. Entretanto, não seria desta vez que se qualificariam, apesar do resultado impressionante.

O primeiro choque dos dinamarqueses foi em 1984, quando obtiveram uma surpreendente classificação para a Euro '84. A surpresa foi enorme, tendo os dinamarqueses derrotado incrivelmente a forte Inglaterra em pleno estádio de Wembley, com um gol de pênalti de Allan Simonsen.

Em um time que já continha grandes e experientes jogadores, como o capitão Morten Olsen, Allan Simonsen, Søren Lerby e Preben Elkjær, surgiam jovens talentos, de técnica formidável, em especial o ponta-esquerda Jesper Olsen, de 23 anos, o meia Jan Mølby, de 20 anos e fantástico meia-armador Michael Laudrup, de apenas 19 anos.

Confiando em uma defesa sólida e um ataque rápido e técnico, a Dinamarca foi longe na Euro '84. Aliás, muito mais longe do que muitos, com desdém, achavam que os escandinavos alcançariam, comandados pelo treinador Sepp Piontek. Um time forte, de preparo físico invejável, que não tinha deficiências visíveis, os dinamarqueses eram azarões para a conquista do torneio, chances de 8 para 1. Contrariariam as previsões, porém.

Aliás, o apelido Dinamite Dinamarquesa surgiria antes do início do torneio. Em um concurso que definiria a música-tema do selecionado do país para a Euro '84, venceu uma música que exaltava o selecionado como a Dinamite Dinamarquesa. Para nós, uma adaptação que até hoje permanece, a Dinamáquina. A máquina funcionaria bem demais dali em diante.

Apesar de uma derrota na estreia para a fortíssima França de Michel Platini, 1 a 0, gol do mesmo - a França seria a futura campeã do torneio - a Dinamarca apresentava já um bom futebol. Na segunda partida, um massacre contra a boa seleção da Iugoslávia, 5 a 0, com destaque para dois gols do competente meia-atacante Frank Arnesen e um de Preben Elkjær, e uma atuação de gala do jovem Michael Laudrup.

A Dinamarca ainda se recuperaria de uma derrota parcial no primeiro tempo para a também forte Bélgica, 2 a 0. Em uma reviravolta sensacional, marcariam três gols, um no fim da primeira etapa, um pênalti convertido por Arnesen, e dois no segundo tempo, o último, do arisco Elkjær, aos 39 minutos, deixando o placar em 3 a 2 a seu favor. Uma inesperada classificação para a Dinamáquina.

Na fase semi-final, após um empate em 1 a 1 com a Espanha, foram eliminados na disputa de pênaltis. Mas esta seria apenas a primeira competição internacional grande que a Dinamarca enfrentaria. Era um grandioso resultado para quem jamais havia conseguido algum resultado expressivo.


Em 1986, os dinamarqueses participaram pela primeira vez da Copa do Mundo. Enfrentando um grupo relativamente forte, contra Alemanha Ocidental - a vice-campeã do torneio -, Uruguai e Escócia, os dinamarqueses não tomariam conhecimento dos seus adversários, vencendo todas as partidas. Uma em particular foi sensacional, uma vitória massiva sobre o Uruguai, 6 a 1, com direito a três gols de Elkjær. Venceram a forte Alemanha Ocidental por 2 a 0, e a Escócia por 1 a 0. Um início muito forte para a Dinamáquina.

Entretanto, nas oitavas-de-final, voltariam a enfrentar seus carrascos de dois anos antes, os espanhóis. Apesar de iniciarem a partida vencendo por 1 a 0, com um gol de Jesper Olsen, sofreram cinco gols, quatro da autoria do craque Emilio Butragueño. Era um resultado surpreendente, por conta da fase de grupos fortíssima da Dinamarca.

A Dinamarca se classificaria novamente para a Euro de 1988, apenas para fazer uma fraca campanha, obtendo o último lugar no seu grupo, que contava com a Espanha, Itália e Alemanha Ocidental. A renovação começara, e a Dinamáquina já contava com novos jovens talentosos, como o legendário goleiro Peter Schmeichel, o lateral Jan Heintze, e os meias John Jensen e Kim Vilfort. Schmeichel, Jensen e Vilfort seriam protagonistas em um futuro bem próximo.

Depois da Euro '88, iniciaria-se um período turbulento e difícil de transição para a Seleção Dinamarquesa. Craques veteranos como o capitão Morten Olsen, o goleiro Ole Qvist, o atacante Allan Simonsen e o defensor Soren Busk já estavam no fim de suas carreiras na seleção, e a reposição destas peças era complicada.

Para piorar a situação, o treinador Sepp Piontek, com a decepção na Euro, e a subsequente não classificação para a Copa do Mundo de 1990, deixaria o comando da Dinamáquina, deixando-o para o seu antigo auxiliar, Richard Møller Nielsen. A Møller Nielsen caberia reerguer os brios e o Futebol dos dinamarqueses.

O objetivo inicial de Møller Nielsen era a classificação para a Euro '92. Porém, nas eliminatórias, nos três primeiros jogos a Dinamarca apenas conseguiu quatro pontos, vencendo a fraca seleção das Ilhas Faroe, empatando com a Irlanda do Norte e perdendo em casa para a Iugoslávia. Brigas internas tratariam de aposentar da Seleção temporariamente os irmãos Michael Laudrup, já um jogador consagrado, e o jovem Brian Laudrup, a grande esperança do Futebol dinamarquês.

Møller Nielsen ainda sofreria duras críticas da imprensa esportiva dinamarquesa, afastando jogadores de qualidade como Jan Mølby e Jan Heintze, por problemas de disciplina. Parecia que Nielsen estava perdendo o controle dos jogadores.

Apesar dos pesares, a Dinamarca venceria os cinco jogos seguintes do seu grupo, o que não seria suficiente para uma classificação.

Porém, a desclassificação se transformaria na maior glória da história do Futebol da Dinamarca. A Iugoslávia, que estava classificada, foi banida da competição, apenas 10 dias antes do evento, por causa de sanções internacionais provenientes da Guerra da Iugoslávia. A vaga seria ocupada pela desacreditada Dinamáquina.

Não seria a única vez em que Møller Nielsen contaria com a sorte. Além da classificação inesperada para a Euro '92, Brian Laudrup voltaria atrás na sua decisão, voltando a jogar pelo seu país. Também, o goleiro Peter Schmeichel estava passando pela maior fase técnica da sua vida, se tornando um goleiro sólido e confiável.

Na fase inicial, se confrontaria com a Suécia - dona da casa -, França e Inglaterra. A Dinamarca, que não contava mais com Elkjær, Morten Olsen, Jan Mølby e Michael Laudrup, teria que se redobrar para obter uma classificação no segundo lugar. Perderia para a Suécia, por 1 a 0, empataria com a Inglaterra em 0 a 0, e no último jogo, bateu a França por 2 a 1, gols de Henrik Larsen e Lars Elstrup.

Contra a fortíssima Holanda, na fase semi-final, depois de um jogo disputadíssimo, que terminaria em 2 a 2, com dois gols de Lars Elstrup, a Dinamáquina conseguiria a classificação para a final nos pênaltis, um feito histórico para os escandinavos.

Contando muito com as grandes atuações de Peter Schmeichel, com uma defesa muito sólida, capitaneada pelo experiente e seguro Lars Olsen, e com o talento fervilhante de Brian Laudrup, além de um torneio inspirado de Lars Elstrup, a Dinamarca chegava na sua primeira Final de campeonato desde o início da era profissional do Futebol no país.

E não desperdiçariam essa chance. Enfrentando a atual campeã do mundo, a agora conhecida como é até hoje, Alemanha, venceriam por 2 a 0. Com uma atuação sensacional de Peter Schmeichel, salvando a sua pátria inúmeras vezes com a pressão e o domínio alemães no jogo, a Dinamarca chocaria o mundo.

Aos 18 minutos de jogo, John Jensen aproveitaria um cruzamento depois de uma jogada disputada pela ponta direita de ataque, mandando um foguete para o gol de Illgner. Aos 33 do segundo tempo, Kim Vilfort aproveitou um bate-rebate em frente da área, deu um drible seco no defensor e chutou cruzado sem chances para o goleiro, deixando o jogo em inacessíveis 2 a 0.


Era a consagração da Dinamáquina. Após a eliminação na fase de classificação para o torneio, e uma reviravolta inesperada e espetacular, os dinamarqueses conquistariam o que é até hoje a grande glória do Futebol de toda a Escandinávia. A geração dos irmãos Laudrup, Mølby, Elkjær, Schmeichel, Jensen e Olsen seria recompensada pelo grande trabalho.

Jamais a Dinamarca juntaria um grupo de tamanho talento. Apesar disso, o Futebol no país vem crescendo nos últimos vinte anos, com uma liga organizada e com o time nacional alcançando as competições internacionais em várias oportunidades. Tudo isso graças aos jovens talentosos que encantaram o mundo com o seu Futebol de técnica e força.

Afinal, o apelido finalmente fora justificado. Está consolidada até hoje a lenda da Dinamáquina, apelido carinhoso que é dado até hoje à Seleção da Dinamarca.

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