segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Grandes Jogos: Itália x Alemanha Ocidental - 1970

O Grande Jogo do post de hoje é considerado até hoje um dos maiores jogos da história do Futebol Mundial, e o maior jogo da história de todas as edições da Copa do Mundo. Uma partida eletrizante entre dois times espetaculares, magníficos.

No dia 17 de junho de 1970, Itália e Alemanha Ocidental disputaram o chamado "Jogo do Século".

A Itália voltava a Copa do Mundo depois de uma participação vergonhosa em 1966, eliminada pela Coreia do Norte. Em 1970, a Azzurra contava com um esquadrão de grande categoria, com uma defesa forte e um ataque talentoso, agraciado por craques como o defensor Giacinto Facchetti, os meias Sandro Mazzola e Gianni Rivera, e os atacantes Roberto Boninsegna e Luigi Riva.

Já a Alemanha Ocidental vinha com uma geração em ascensão, depois da derrota polêmica na final de 1966. Jovens jogadores da edição anterior já estavam consagrados, juntamente com grandes jogadores mais velhos, criando um esquadrão equilibrado e sólido. Com um time recheado de craques, como o goleiro Sepp Maier, os defensores Berti Vogts e Karl-Heinz Schnellinger, os meias Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath e os atacantes Uwe Seeler e Gerd Müller, os alemães eram fortes candidatos ao título.


Campanhas:

Na primeira fase, a Itália, costumeiramente, se classificou com um Futebol meramente suficiente. No Grupo 2, que compartilhava com Uruguai, Suécia e Israel, se classificou em primeiro lugar com míseros quatro pontos, uma vitória (na época, a vitória contabilizava 2 pontos apenas) e dois empates. Venceu a Suécia por 1 a 0 na estreia, com um gol de Domenghini, empatou a segunda partida, contra o Uruguai, em 0 a 0, e na última partida, mais uma vez, um 0 a 0, surpreendente, contra a fraca seleção de Israel.

Nas quartas-de-final, a Itália pegaria a seleção anfitriã, o México. Louco para fazer história, e embalado pela torcida, o México sairia na frente, com José González. Mas a Itália não deixaria barato, e mostraria sua superioridade, marcando quatro gols, com Guzmán (contra), Riva, duas vezes, e Rivera, respectivamente.

A Alemanha Ocidental, em contrapartida, teve um caminho mais tranquilo. Fazendo parte do Grupo 4, que ainda tinha o bom time do Peru, Bulgária e Marrocos, venceria suas três partidas, se classificando com 6 pontos em primeiro lugar.

Na estreia, bateria o Marrocos por 2 a 1, após começarem perdendo, com gols de Seeler e Müller, respectivamente. No segundo jogo, começaram perdendo mais uma vez, mas liquidaram a Bulgária por 5 a 2, com destaque para três gols do artilheiro Gerd Müller. Contra o Peru, mais uma atuação espetacular de Müller, que marcou três vezes novamente, em uma vitória de 3 a 1.

Contra a Inglaterra, nas quartas, jogariam uma partida espetacular, uma recuperação maravilhosa. Após estarem perdendo o jogo por 2 a 0, e os ingleses já cantando vitória, os alemães conseguiram uma virada impressionante. Beckenbauer marcaria um golaço aos 23 do segundo tempo, seguido aos 31 por um gol guerreiro de Seeler. Na prorrogação, surgiria a estrela de Gerd Müller mais uma vez, marcando 3 a 2 e virando a partida.


O Jogo:

Alemães e italianos se encontravam na semi-final da Copa do Mundo. O vencedor enfrentaria outro timaço, definido em outro jogo espetacular, Brasil e Uruguai. O Estádio Azteca, com mais de 102 mil pessoas, presenciaria um jogaço, digno de antologia.


A Itália estava escalada com: Albertosi; Burgnich, Facchetti, Cera, Rosato (Poletti/91'); Bertini, De Sisti; Domenghini (Rivera/46'), Riva e Boninsegna. O treinador era Ferruccio Valcareggi.

A Alemanha Ocidental vinha armada com: Maier; Vogts, Patzke (Held/66'), Schulz, Schnellinger; Beckenbauer, Overath; Grabowski, Seeler, Müller e Löhr (Libuda/52'). O treinador era Helmut Schön.

Uma forte chuva caíra no dia anterior à partida, transformando o até então excelente gramado do Estádio Azteca em um campo pesado, irregular, embarrado, não muito adequado para a prática do Futebol. Entretanto, isto não seria problema para ambos os times.

Aos 8 minutos de partida, Roberto Boninsegna, carregando a bola pelo lado direito de ataque, investiu pelo meio, e tentando tabelar com Riva, acabou recebendo da defesa alemã, e mandando um chutaço de pé esquerdo no canto de Sepp Maier, sem quaisquer chances de defesa. Estava marcado 1 a 0 para a Itália. E o placar se manteria assim por muito tempo.

A partir daí, a partida se tornaria quase um monólogo alemão de ataque contra a defesa italiana, buscando o empate a qualquer custo.

O gol italiano, defendido pelo ótimo goleiro Enrico Albertosi, parecia estar lacrado. Ótimas chances foram criadas e negadas pelo goleiro, com um chute de virada de Gerd Müller e um arremate de fora da área venenoso de pé esquerdo do ponta-direita Jürgen Grabowski.

A Itália teria uma chance com Luigi Riva, apesar de estar em impedimento, cabeceando forte para uma boa defesa de Sepp Maier.

No segundo tempo, o magistral meia Wolfgang Overath perderia uma chance claríssima, depois de uma jogada de Gerd Müller, roubando a bola do goleiro, passando para Grabowski, que driblou um zagueiro e tocou para o meio da área, encontrando o meia esquerda, que por sua vez mandou um foguete de encontro ao travessão de Albertosi.

Outra chance incrível seria perdida por Siegfried Held, que, depois de boa jogada de Overath, chutou para o gol com Albertosi batido, mas a bola seria tirada incrivelmente por Rosato. No rebote, Seeler sofreria pênalti, com a bola sobrando para Gerd Müller, que mandou de bico por cima do gol.


Num momento de heroísmo, que até hoje é lembrado como uma das atitudes mais corajosas da história do esporte, Franz Beckenbauer se transformaria em mito. Após sofrer uma falta dura, Beckenbauer fraturaria sua clavícula. Como a Alemanha Ocidental já havia feito suas substituições, Beckenbauer não poderia ser substituído. Com a força de vontade de um guerreiro, o alemão pediu para que seu braço fosse imobilizado ao corpo, voltando ao campo. Um ato digno de um verdadeiro herói.

Inspirados pela coragem de Beckenbauer, os alemães não desistiriam, e aos 45 minutos do segundo tempo, já entrando nos acréscimos, um cruzamento de Grabowski encontrou o lateral-esquerdo Karl-Heinz Schnellinger sozinho no meio da área, mandando a bola para o fundo das redes. Um empate heroico. Mas o melhor ainda estava por vir.

Com o empate em 1 a 1, o jogo teria que ser decidido na prorrogação. Mas não seria uma prorrogação qualquer. Seria talvez a prorrogação mais sensacional de todos os tempos, a única em uma Copa do Mundo em que foram marcados cinco gols ao total.

Aos quatro minutos do período suplementar, após um desentendimento incrível entre o reserva italiano Fabrizio Poletti e o arqueiro Albertosi, Gerd Müller chutaria prensado, mandando a bola de mansinho para o fundo do gol da Itália. Era a virada, 2 a 1.

Quatro minutos mais tarde, em uma falha de outro reserva, mas desta vez o alemão Siegfried Held, que não conseguiria cortar uma cobrança de falta, o zagueiro Tarcisio Burgnich chutaria tranquilamente para o gol de Maier. 2 a 2.

Aos quatorze minutos do tempo suplementar, a Itália viraria a partida novamente. Depois de jogada pelo lado esquerdo, Boninsegna cruzou para o elegantíssimo Luigi Riva, que, em um lance de rara categoria, driblaria o zagueiro alemão na entrada da área, chutando cruzado de esquerda sem chances para Sepp Maier, 3 a 2.

Os alemães, impávidos, não desistiriam mais uma vez. Ainda perderiam um gol com uma cabeçada de Uwe Seeler, defendida mais uma vez por Albertosi.

Entretanto, no lance imediatamente seguinte, aos cinco minutos do segundo tempo da prorrogação, depois de cruzamento pelo lado direito, Seeler, 1,67m de altura, subiu mais que toda a defesa italiana, cabeceando para a pequena área, encontrando o oportunista Gerd Müller, que cabeceou para o gol italiano, empatando em 3 a 3 a partida.

Sem deixar tempo para comemorações, os italianos dariam o golpe de misericórdia nos alemães. Na saída de bola, apenas um minuto após o último gol de Müller, Boninsegna receberia de Facchetti, e mais uma vez faria jogada pelo lado esquerdo, lançando para o meio da grande área alemã. A bola calmamente encontrou o grande Gianni Rivera, que entrara no segundo tempo, mandando de pé direito com categoria para o gol alemão. Era 4 a 3, placar fechado.

Os alemães não conseguiriam rebater um baque tão forte. O jogo terminou em 4 a 3, com todos os atletas exaustos pela intensidade da partida, pelo calor da Cidade do México e pelo campo pesado.

Terminava o jogo mais sensacional da história das Copas do Mundo. A partida está imortalizada até hoje no Estádio Azteca, onde se encontra uma placa, que homenageia os atletas que fizeram parte do "Jogo do Século".

A Alemanha Ocidental venceria o Uruguai na disputa do terceiro lugar por 1 a 0, em outro grande jogo. A Itália não teve a mesma sorte, perdendo na final para o sensacional selecionado do Brasil, por 4 a 1.

Mas todos certamente, e até hoje, sentem orgulho de dizer que assistiram ou fizeram parte do maior jogo já disputado em uma Copa do Mundo. Um jogo de encher os olhos. Simplesmente impossível adjetivar adequadamente.

Abaixo, o vídeo do jogo.

Bom proveito!















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